O direito à greve é sagrado e inalienável, diz-se e ninguém, publicamente, contesta.
Nenhum político com ambições de poder se atreve a sequer considerar restrições aos limites desse direito dos trabalhadores.
E, no entanto, a greve dos controladores aéreos espanhóis, uma classe de poucas centenas de profissionais*, conseguiu ontem, de um momento para o outro, paralisar todo o tráfego que atravessa o espaço que eles controlam causando o caos nos aeroportos de Espanha e perturbações graves em muitos aeroportos europeus. Por um dia, os controladores aéreos espanhóis foram donos e senhores de uma parte do mundo.
A propósito desta greve, o PM ministro português terá telefonado ao seu homólogo espanhol solidarizando-se com ele na condenação da paralisação selvagem. Entretanto, o PM espanhol já tinha decidido avançar com o estado de alarme, obrigando os grevistas a retomarem funções sob pena de (alguns) poderem ser expulsos e presos. À tarde, apenas treze não se teriam apresentado ao serviço, a cerca de cem terão sido abertor inquéritos e terão de comparecer perante a justiça.
A propósito desta greve, o PM ministro português terá telefonado ao seu homólogo espanhol solidarizando-se com ele na condenação da paralisação selvagem. Entretanto, o PM espanhol já tinha decidido avançar com o estado de alarme, obrigando os grevistas a retomarem funções sob pena de (alguns) poderem ser expulsos e presos. À tarde, apenas treze não se teriam apresentado ao serviço, a cerca de cem terão sido abertor inquéritos e terão de comparecer perante a justiça.
O direito à greve foi fundamental na luta do trabalhadores pela conquista de dignidade social e pela mais justa repartição da riqueza criada. Sem esse direito, a humanidade seria mais pobre e a injustiça social mais degradante.
Acontece que os tempos mudaram e os trabalhadores também.
Hoje, as classes operárias que se bateram pelo direito à greve vêm esse direito constrangido. São raras as greves em fábricas porque a globalização facilitou a concorrência de produções distantes e suscitou a deslocalização das produções industriais para países com trabalho mais barato.
Quem faz greve, agora?
A função pública e os serviços de utilidade pública (sobretudo os transportes). Com emprego garantido para toda a vida, sem concorrência externa e receitas pagas por todos os contribuintes, as greves da função pública e afins têm êxito garantido e as reivindicações satisfeitas, até porque são muitos e valem muitos votos. Quando os transportes colectivos entram em greve são obrigados a faltar ao trabalho aqueles que os utilizam, isto é, geralmente os mais mal pagos.
Resolve-se a questão, privatizando parte desses serviços? Não se resolve se os concessionários continuarem a receber subsídios pagos pelos contribuintes.
A questão resolve-se do modo como, enviesadamente, reconheceu Zapatero com o apoio apressado de Sócrates: Reconhecendo sem complexos de esquerda que o direito à greve daqueles que se encontram no desempenho de serviços públicos é um direito ilegítimo e deve, portanto, ser extinto. Porque é um direito usado por forças monopolistas, em sentido totalmente contrário aquele para que foi criado: o direito de união do trabalho contra o poder superior dos patrões.
O que é uma paralisação selvagem senão, eufemisticamente, uma greve ilegítima?
Muito medo têm os políticos das palavras.
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*actualização - Espanha processa um quinto dos controladores aereos, de um total de 442.
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