Tuesday, December 21, 2010

BEM OU MAL

- Ambrósio, porque tiveste a infelicidade de nascer plebeu, a tua opinião não conta. Mas já agora gostava que me dissesses se, em tua opinião, fazer amor é ou não é trabalho?
- Senhor Marquês, se fazer amor fosse trabalho quem teria de dormir com a senhora Marquesa era eu. (do Anedotário com Barbas)

Na sequência do que escrevi aqui, e que mereceu o desacordo do meu amigo Luciano M., deu-me a diferença de fusos, esta noite, tempo para cogitar um pouco mais sobre o erro que, eventualmente, possa ter incorrido.

Afinal, o trabalho é ou não é um bem?

O conceito "trabalho" é, pelo menos, tão elástico quanto o conceito de "bem".
De qualquer modo, e para a questão abordada, parece não haver dúvidas de que se existe um" mercado de trabalho" em que até o Luciano confia, nesse mercado, forçosamente, alguma coisa, produto ou serviço, um bem, é objecto de troca.

Por outro lado, sendo o trabalho a capacidade física e intelectual (não há trabalhos apenas manuais) do trabalhador para  realização de tarefas produtivas, o aumento progressivo da produtividade (a produção realizada em cada unidade de tempo)  reduz a necessidade das capacidades disponíveis para os mesmos níveis de produção. Neste sentido, a humanidade caminhará para o excesso e não para a escassez de trabalho, e o título do meu apontamento (o trabalho, um bem escasso) seria contraditório com o texto.

No entanto, o conceito é, geralmente, utilizado em sentido oposto: As pessoas andam à procura de trabalho (as que não andam só à procura de emprego), queixam-se com falta de trabalho (as que estão sem ele), ou do excesso de trabalho (as que o têm), em conclusão, neste sentido o desemprego existe porque não há trabalho disponível em quantidade suficiente para as capacidades disponíveis num dado momento. Já para não referir aquele que não trabalha (não faz alguma coisa) porque (essa coisa) dá muito trabalho ... 

No "mercado do trabalho" o que se compra e vende é energia, física e mental. Transacciona-se um bem.
Aliás, todos os bens, todos os produtos e serviços incorporam do início ao fim do ciclo produtivo, trabalho. Os bens (o ar, alguma água, etc.) que não requerem trabalho para a sua fruição, são gratuitos.

Assim sendo, o trabalho não é apenas um bem mas um bem omnipresente em toda a produção humana. Isto é, para além do trabalho, não há mercados de mais nada.

Trabalho, um bem escasso ou trabalho, um bem abundante, depende da perspectiva do observador mas
a conclusão é a mesma: Se a produtividade tende para infinito e o consumo é limitado à duração do dia (do dia, porque o homem repete diariamente essencialmente os mesmos consumos) o trabalho, enquanto energia, é menos necessário; enquanto oportunidade de utilização dessa energia (emprego) é mais escasso.

Salvo melhor opinião. 

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