Thursday, December 30, 2010

SONHOS E RABANADOS - PARTE 7

Resumo das cenas anteriores - Das eleições de 23 de Janeiro não resultou, contrariamente a todas as sondagens a maioria absoluta de votos para um dos candidatos. Na segunda volta, pela margem estreitíssima de um voto (soube-se mais tarde que, após pressões de todos os quadrantes da esquerda, o seu Patriarca continuou a recusar-se a votar mas acabou por mandar o seu motorista fazê-lo), Presidente Alegre entrou em Belém, concretizando um sonho dos tempos em que por ali andara a catar musgo, e que o próprio relatou aqui

Entre as suas medidas revolucionárias para resgatar a dignidade perdida do país, Presidente Alegre decidiu, levando em conta uma proposta de um doutor bloquista, que leu aqui, mandar o euro às urtigas e adoptar a coroa portuguesa como moeda. Pelo caminho ficou o anterior primeiro-ministro, pouco sintonizado com Alegre, e assumiu o governo da nação, mas não o comando, César, o amigo ilhéu.

Impressionou-o também muito favoravelmente para esta mudança estratégica o facto de guardar a recordação de uma nota jugoslava de 1993, de 500 milhões, que um amigo dos tempos revolucionários lhe deu, e que é retrato fiel de uma sociedade que foi próspera a ponto de ter sido, toda ela, sem discriminações, arquimilionária.



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Antes da leitura da reportagem que segue, transmitida, como as anteriores, em directo de Belém, sugiro a leitura integral do que o Presidente Alegre escreveu aqui.
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- César!!!!!

(noque, noque, noque)

- Chamaste, Manel?
- Que te parece?
- Bem ... Muito bem.
- Ainda bem que nos entendemos. César, temos um problema.
- É para isso que cá estamos, Manel. Para "solving problems"...
- Que é isso?
- Dialecto norte-americano ... Influência dos rapazes das bases ...
- Temos de correr com eles!
- Achas??? ....Manel?
- Não acho. Detesto essa casta pegajosa e nauseabunda, que corrói o tecido da pátria, os achistas. Eu não acho! Ordeno!
- E é para já, Manel?
- Não, não é para já. Para já temos outro problema entre mãos.
- Avariou-se a tua rotativa...?
- Avariou nada. Está parada por falta de encomendas...Desde que passámos a imprimir notas de 500 milhões, a malta não quer doutras.
- Estou a ver...
- Onde?
- É força de expressão ...
- Não te esforces que te podes cansar antes de tempo. O problema é este: Nos meus tempos de exilado político em Paris,  na noite de Natal os revolucionários ficavam tristes e nostálgicos, comprei uma garrafa de Porto, peguei nela e fui até ao bistrot onde costumava comer uma omelete de fiambre. Havia mais três solitários no bistrot, um velho de grandes barbas, um tipo com cara de eslavo, um africano. Convidei-os para partilharem comigo a garrafa de Porto, que não resistiu muito tempo, ao mesmo tempo que me recordava, e lhes contava, histórias dos tempos em que catava musgo em Belém. Ia a noite já alta, quando um deles, o africano, diz: Agora, vamos para Belém.  E cá estou..
César, tu acreditas em milagres?
- Nesse, acredito, totalmente. E por onde é que param esses amigos agora?
- Pois aí é que está o problema. O Gaspar, um mago culto, bem educado,  acabou por ter de ir trabalhar para as obras mas, com a crise da construção civil, há mais de dois anos que está desempregado; o Baltazar, depois de passar uns tempos pendurado sem lhe aparecer um cliente, arranjou um gancho como porteiro de uma discoteca, mas está farto dar e levar pancada; O Melchior ganha umas coroas como tarólogo, mas queixa-se constantemente da concorrência, que informatizou o negócio e, miseravelmente, lhe seduz a clientela.
- É isso. Isto está mau para muita gente...
- Ora, agora que cheguei a Belém, manda a mais elementar justiça, o mais imediato bom senso, a mais profunda tradição, que os acolha neste presépio, nesta manjedoura para falar português corrente, a que a tal estrela nos conduziu desde aquela noite fria em que, desolados, nos encontrámos em Paris. 
- Obviamente. Temos de os trazer para cá.
- E temos lugares para eles?
- Se não houvesse lugares para eles para quem poderia haver?
- Sabes?, ás vezes chego a pensar que deverias mudar de nome.
- Podes chamar-me Carlos...
- Muito bem, Carlos. Vou mandar vir os magos. Trata-os bem, Carlos.
- O melhor possível. Já agora, Manel, não achas que deveríamos contar com mais figurantes à volta do presépio? 
- A tradição obriga?
- É uma obrigação da tradição.
- Pois que se cumpra a tradição.
- E viva o velho!
- Que velho?
- O Melchior, Manel, O Melchior.
- Ah! ... A propósito, Carlos, vou enviar-te uma pequena lista de outros figurantes que há muito tempo me acompanham. Coloca-os em lugares de destaque. É gente bem parecida, para ficar junto à manjedoura.
- E cumpre-se, religiosamente, a tradição!

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