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Sei que não é a parte mais relevante deste gráfico mas sempre me pareceu pouco pertinente a comparação dos níveis de desemprego revelados pelas estatísticas durante o regime anterior que, neste caso, é uma linha horizontal pouco acima dos 2%, subita e revolucionariamente colocada abaixo dos 2% durante um período curtíssimo em 74/75.
Mesmo considerando que a década de 60 foi a de maior crescimento económico relativo, a agricultura ocupava ainda uma parte importante da população activa e a animação observada no sector secundário não absorvia a força de trabalho que deixava a terra e saltava para o estrangeiro.
Não tenho, evidentemente, registos que permitam confirmar a minha suposição, mas sei que, por um lado, a agricultura, na generalidade dos casos não garantia, bem longe disso, o emprego continuado, era sazonal e muito dependente das condições atmosféricas. Se chovia, não trabalhava, não recebia. Era essa incerteza associada a salários de susbsistência e à falta de emprego local que empurrava as pessoas para fora do país. Em França, sobretudo na área de Paris trabalhavam por essa altura quase 1 milhão de portugueses.
Se, por um lado, a emigração contribuía para a redução do desemprego, parece-me inquestionável que a emigração massiva é, por outro lado, indicador flagrante de níveis de demprego bem acima dos valores oficiais.
Se o desemprego estivesse contido a níveis tão baixos seguramente que não teria emigrado tanta gente.
Acresce ainda que, num mundo isolado, a ausência de desafios de competitividade consentia níveis de subemprego elevados e salários baixos. O emprego feminino era praticamente nulo em algumas actividades (bancos, finanças, comércio, por exemplo) remetendo-se, frequentemente, a mulher nos meios urbanos à condição de "doméstica".
A súbita descida estatística observada em 74/75 confirma de algum modo parte do que afirmo:
Recordo-me, por exemplo, da indústria de conservas. Até 74, as fábricas eram grandes espaços para onde se convocavam as mulheres das redondezas. Trabalhavam umas horas, uns dias seguidos se a pesca tinha sido abundante, e voltavam para casa à espera de nova convocação que nunca se sabia quando iria chegar. Em 75 a indústria é obrigada a integrar o pessoal de forma permanente e a garantir o salário mínimo. Com atraso de décadas, começou a automatização e o aumento da produtividade, isto é, a redução do efectivo. Pouco tempo depois, a maior parte das fábricas fechou as portas.
Outro exemplo: Na indústria de celulose, o pessoal trabalhador nas matas era eventual, isto é, sem qualquer vínculo contratual à empresa. Ganhava quando trabalhava e consoante o que trabalhava. Por imposição do governo foi integrado nos quadros e remunerado consoante as tabelas do contrato colectivo. Poucos anos depois foram negociados contratos de saída e, em simultâneo, de subcontratos de corte de matas.
Estavam empregadas as mulheres recrutadas eventualmente na indústria conserveira e os homens que trabalhavam nas matas, antes de 74? Estavam de quando em quando. Era esse o panorama geral em grande parte da actividade económica em Portugal antes de 74.
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