Joseph Stiglitz aborda em "GLOBALIZATION AND ITS DISCONTENTS", a sua obra de divulgação sobre questões económicas e sociais mais citada, a questão dos perdedores com a globalização, avisa que o crescente número destes pode fazer retroceder a globalização e comprometer a liberalização do comércio internacional. Mas não avança nenhuma receita que possa anular os inconvenientes da concorrência global.
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Porque não há receita possível que possa evitar perdedores. Porque toda a concorrência é um embate que não consente vantagens para todos.
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O "The Wall Street Journal" de ontem relatava uma situação paradigmática a este respeito, por razões e incidências diversas: No Estado de Iowa, cidade de Waterloo, a empresa dos mundialmente conhecidos tractores John Deere. Aparentemente, a John Deere é uma ganhadora da globalização e, por razões óbvias, a sua cidade e o seu Estado. A procura global de tractores tem sido boa, beneficiando Waterloo.
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E, no entanto, durante o último par de anos, trabalhadores e votantes desta cidade, assim como em todo o Iowa, têm vindo a debater, cada vez com mais intensidade, os efeitos da globalização.
E não só no Iowa: à medida que se aproximam as eleições do próximo ano os EUA começam a ser atravessados por um sentimento contrário à liberalização do comércio internacional.
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O Estado de Iowa caracteriza-se politicamente por se incluir no conjunto dos estados norte-americanos onde os resultados eleitorais são mais disputados por não deterem neles presenças hegemónicas qualquer dos partidos. Por outro lado, tradicionalmente, o eleitorado do Iowa configura-se como uma amostra representativa do eleitorado norte-americano no seu conjunto. Ganhar as primárias no Iowa, portanto, é para os candidatos o melhor augúrio para as eleições presidenciais do próximo ano.
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O Iowa tem sido um dos grandes ganhadores da globalização: impulsionadas pela procura global de cereais para alimentação e para a produção de etanol e biocombustíveis em geral, e ainda de equipamentos para a agricultura. As suas exportações cresceram 77% durante os últimos quatro anos e o desemprego ronda os 3,7%.
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E, no entanto, durante os últimos vinte anos os empregos na indústria têm-se reduzido de forma inquietadora para muita gente no Iowa, que acusa a globalização pela perda consistente de empregos na indústria, determinante de deslocalizações e de aumentos de produtividade. Segundo uma sondagem realizada em Setembro, 42% contra 33% dos inquiridos mostram-se dispostos a apoiar o candidato que lhes pareça mais convicto acerca das consequências negativas da globalização. Considerando o efeito Iowa, os republicanos concorrentes às primárias de 3 de Janeiro, próximo, estão, também eles, a demonstrar fissuras na sua tradicional devoção ao liberalismo económico.
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A globalização promete, portanto, assumir-se, a par da guerra no Iraque e Afganistão, como um dos pontos mais fracturantes das presidenciais em 2008.
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