Thursday, April 25, 2013

MÚSICA DISSONANTE

O discurso do Presidente da República no dia 25 de Abril sempre foi o tema central das comemorações do momento refundador da democracia. Quando ainda eram verdes as esperanças prometidas pela revolução sem vítimas em combate, os discursos presidenciais suscitavam, geralmente, interpretações diferentes consoante o quadrante partidário leitor. Quando mais redondos os discursos maior o aplauso porque cada qual lia a mensagem presidencial conforma lhe convinha.
 
O discurso de hoje,  ainda que recheado de condimentos tecnocráticos, não fugiu à regra da redundância, reportando tudo sem rejeitar nada: os portugueses têm à sua frente um futuro longo de incertezas e amarguras, a austeridade não é solução mas as contas públicas têm de equilibrar-se, o défice do Estado terá de convergir para 0,2% do PIB  e a dívida pública para os 60% do mesmo; a política económica da União Europeia tem-se revelado um desastre, a troica errou objectivos por erros na escolha dos instrumentos, mas Portugal subscreveu compromissos que tem de honrar se quere voltar daqui a pouco mais de um ano aos mercados. Voltar aos mercados, o santo e a senha da recuperação da nossa independência perdida. Mas, hélas!, tudo se pode compor se houver um consenso partidário alargado, um requisito necessário de sucesso até recentemente esquecido.
 
Com o repetido apelo ao consenso, o abracadabra descoberto só há dias pelo governo, Cavaco Silva comprometeu irremediavelmente o consenso sobre o seu discurso. Apelar ao consenso numa altura em que a oposição, e principalmente o PS, vê o poder a cair-lhe nos braços, equivale à interrupção da evolução de um clímax à beira do orgasmo. Para a senhora Catarina Martins, para o senhor João Semedo, que não se entendem sequer com o senhor Jerónimo de Sousa, se novas eleiçõe não lhe derem mais dão-lhe certamente mais deputados e mais verbas do orçamento. Para o senhor António José Seguro, São Bento é uma quase certeza sem contrapartidas.
 
Que fará ele com a criança nos braços? Não sabe, mas presume-se que não saiba.
De momento, só sabe que foi assim que o senhor Passos Coelho chegou a São Bento.
 

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