Thursday, April 18, 2013

A CULPA DA FOLHA DE EXCEL

Afinal a dívida pública não impede o crescimento.
A afirmação é de três académicos que, utilizando a base de dados com que trabalharam Carmen Reinhart e Kenneth Rogoff para fundamentaram as conclusões do seu paper de 2010 - "Growth in a Time of Debt" -, concluiram que há omissões e erros naquele trabalho, inclusivé na formulação da folha de Excel utilizada. Revistos os dados e os cálculos, garantem os académicos revisores, não há nenhuma evidência empírica que permita deduzir que a dívida pública acima de 90% do PIB impede o crescimento económico.
 
A notícia vem hoje publicada em todos os jornais e promete um volte face na argumentação daqueles que, para sustentarem as políticas de austeridade, sobretudo na Europa, vinham invocando as conclusões do paper de Reinhart e Rogoff, os dois autores de "This Time is Different - Eight Centuries of Financial Folly", uma obra que os notabilizou a seguir à erupção da crise de 2008.
 
Reinhart e Rogoff já terão admitido erros na folha de Excel sem contudo terem retrocedido ainda nas conclusões que retiraram há dois anos atrás, que, aliás, nunca foram peremptoriamente apresentadas por eles como exclusivas de outros efeitos e circunstâncias susceptíveis de determinarem resultados diferentes. Como muitas vezes acontece, o seu trabalho foi sobretudo aproveitado por aqueles a quem as conclusões serviam de bandeira das suas políticas. Tudo isto é sintomático de uma desorientação social que se agarra a tudo que suporte as convicções e os interesses em confronto no meio da turbulência da crise.

Beber vinho faz bem à saúde?
Depende do vinho, de quem o bebe e de quanto bebe. Uma bebedeira permanente não é recomendável em nenhumas circunstâncias. Ainda que numa qualquer folha de Excel alguém garanta ter concluido o contrário.

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Correl . - Os dois autores, nas suas intervenções públicas, sempre foram mais prudentes do que os políticos a tirar conclusões práticas do seu estudo. Carmen Reinhart, quando participou por vídeoconferência num seminário recente organizado pelo Banco de Portugal, recomendou uma redução da dívida pública do país. Mas reconheceu que a via da austeridade não é a única e que uma reestruturação de dívida pode ser a única solução. “Não estou a dizer que a austeridade e as reformas estruturais não são importantes. O que estou é a sugerir que, decididamente, só isso não chega. Quando as dívidas chegam a este nível, historicamente necessitaram de algum tipo de negociação com os credores”, afirmou, citada pelo Jornal de Negócios. (aqui) 
 

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