Tuesday, January 04, 2011

XEQUE AO REI - 16

É a quadratura do círculo?
Pode não ser. Mas é complicado. E é ainda mais complicado, se não impossível, se o governo que tem de criar as condições para que tal aconteça for minoritário por mais voluntarioso e optimista que seja quem o lidere. Porque até mesmo um governo maioritário, como o anterior, acaba por ceder e recuar quando as pressões corporativas começam a estrebuchar e aquilo com que se pagam os votos dos eleitores se esvai.

Venho apontando isto há muito tempo neste caderno. Lamentavelmente, com o decorrer do tempo, observo que há cada  vez mais sumidades que apontam no sentido que sempre referi. Mas lamentavelmente também a expectativa táctica dos candidatos a lugares de poder continua a  refrear-lhes a assumpção de posições inequívocas a respeito de quem deve colocar o guizo no pescoço do gato*. 

Interrogados sobre o que pensavam acerca da continuidade do actual governo após as eleições presidenciais, os dois candidatos com maiores  probabilidades chutaram para canto: um, para conquista do eleitorado socialista desconfiado com ele, assumiu como certo que o outro dissolveria a AR na expectativa de criar condições para um governo afecto ao adversário; o outro, remeteu-se à interpretação restritiva da lei  fundamental, relembrando que o governo depende da AR e é nessa sede que a questão da continuidade do governo se pode colocar.

Dos onze ouvidos pelo Público, só um referiu a necessidade da criação de condições políticas para se atingirem os objectivos geralmente julgados imprescindíveis. Como, se para os outros, e para a generalidade dos portugueses, não fosse óbvio que para além de decidir para onde vamos não fosse tanto ou mais importante definir como vamos.

É que não se sabendo como vamos, não iremos a lado algum.

Após as eleições presidenciais, se o actual  presidente for releito, ele tem o dever patriótico de chamar o actual primeiro ministro e confrontá-lo com a necessidade, incontornável nas actuais circunstâncias, de constituir um novo governo que disponha de uma base parlamentar o mais maioritária possível. E, com esta decisão, fazer saber ao candidato da oposição que o mesmo princípio se lhe aplicará, se e quando for governo. Para tanto dispõe já de alguns pareceres públicos de reputados constitucionalistas que lhe suportarão essa posição. O tacticismo num primeiro mandato muda de nome no segundo: passa a pusilaminidade.

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* vd aqui e aqui

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