Monday, September 12, 2011

KRUGMAN CONTRA TRICHET

Paul Krugman volta a avisar no "New York Times" de hoje que a política de defesa intransigente a estabilidade dos preços na zona euro está a conduzir a  moeda única para o colapso. Não podendo defender-se contra o comportamento dos investidores/credores que lhes impõem condições progressivamente insuportáveis, os governos da Espanha e da Itália, que já concordaram e impuseram reforçadas medidas de austeridade, que já aceitaram constitucionalizar os limites da dívida, estão a ser empurrados pelos mercados para o default, que, em consequência da dimensão das economias envolvidas, se vier a acontecer, provocará o colapso do sistema financeiro europeu.

Quem é que poderá estar interessado neste desastre, para além dos suspeitos do costume?

Trichet, alvo das principais críticas de Krugman, que também não poupa os advogados do estado mínimo nos EUA, obedece aos estatutos do BCE e transige tanto quanto lhe deixam os alemães, holandeses, finlandeses e uns quantos mais. E é, quanto a este ponto, o da responsabilidade de Trichet (ou de Ben Bernanke, do outro lado do Atlântico) que me parece que Krugman, e todo aqueles que perfilham as mesmas teses, atira para o alvo errado. 

Trichet (e BB), são funcionários que tomam as decisões que os regulamentos lhes consentem. Dentro dos limites em que se circunscrevem esses poderes, podem tomar boas ou más decisões - e, geralmente, só muito tarde as más decisões se revelam - mas, nas circunstâncias excepcionais actuais, que exigem soluções excepcionais, as competências de um de outro dependem, sobretudo, dos governantes políticos, com particular destaque para os alemães.

Krugman, reconheça-se, também não tem poupado Angela Merkel. Mas Merkel, apesar da intransigência na aceitação dos eurobonds (por exemplo) tem vindo a perder todas as últimas eleições, sinal, pelo menos aparente, de que os eleitores alemães se posicionam de modo mais intransigente que a Chanceler. Porquê?
Estarão os cidadãos alemães (e os holandeses, os finlandeses, os austríacos) cientes dos efeitos de um colapso de Espanha ou da Itália sobre os seus bancos, isto é, sobre as suas economias, sobre as suas poupanças?  

Precisa a União Europeia, e em particular a Zona Euro, de um abalo de intensidade superior à falência do  Lehman Brothers para a abanar e acordar?

Serão os eurobonds a terapêutica adequada? Talvez tivessem sido há largos meses atrás. Agora, é tarde demais para medidas pontuais. A crise actual veio impor um reequacionamento total da construção europeia, construção essa que passa inevitavelmente por uma integração a caminho acelerado de um governo federal das funções que sejam o travejamento essencial do edifício.
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Acabo de escrever esta nota e oiço já observarem-me: O sr., e todos quantos pensam o mesmo, em que planeta vivem? Pois se nem para os eurobonds os do Norte estão dispostos a avalizarem as indisciplinas do Sul como é que v. quer que, assim de um dia para o outro, 27 países se concertem à volta de um governo federal a tempo de evitar o precipício?

(continua)

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