Sunday, March 20, 2011

ENGENHOS DE UM MALABARISTA


Tal afirmação poderia não acrescentar nada ao que se conhece do estilo do PM, sabendo-se que ele não está disponível para governar com ninguém, se por detrás dela não estivesse uma bem urdida táctica para se manter na corda bamba.

Sócrates sabe que o cumprimento das metas do PEC 3 não seriam atingidas e muito menos seriam suficientes para inverter a tendência imparável do crescimento das taxas de juros. Também sabe que a crise financeira internacional não pode continuar a ser argumento para justificar o agravamento da situação portuguesa: as economias ocidentais já recuperaram, com particular destaque para os dois principais motores: EUA e Alemanha.

Para continuar a sustentar a ideia de que Portugal não precisa de ajuda externa, e muito menos da intervenção do FMI, dispôs-se perante a UE, e sobretudo perante Angela Merkel, a assumir o compromisso de mais medidas de austeridade sem ouvir ninguém. E gizou todo o embróglio que hoje é público.

Com a facilidade que se lhe conhece de dizer com a mesma convicção hoje o contrário do que disse ontem, levando muitos a aplaudir acríticamente tudo quanto ele afirma, Sócrates, de cada vez que vai à cartola, tira um coelho para empolgar os devotos e colocar em dificuldade os críticos.

Ao afirmar ontem que não está disponível para governar com o FMI, Sócrates coloca a barra mais alto, os devotos ovacionam e o PSD que se cuide.

Porque Sócrates quer eleições mas também quer responsabilizar as oposições pela sua convocação e terá meio caminho andado se na próxima Quarta-Feira o PEC 4 for chumbado obrigando-o a demitir-se. Para a generalidade da opinião pública esvair-se-ão as contradições em que se envolveu, as faltas que cometeu, os desvarios de governação, sobretudo muito evidentes nestes últimos meses. Sobram contra ele as medidas de austeridade e os principais atingidos, justa ou injustamente, por elas.

E, das duas uma, i) ou Sócrates ganha as eleições por pequena margem (hipótese pouco provável mas possível) e terá de governar com o FMI, porque da bagunça das eleições só poderá resultar uma situação financeira ainda mais dramática e uma economia mais debilitada, e argumentará que foi a oposição que provocou uma derrocada numa altura em que ele tinha a recuperação garantida, ii) perde as eleições e responsabilizará a oposição por governar com o FMI, uma situação em que ele jamais deixaria descambar o país.

Tudo conjugado, a tendência da evolução da situação política ajusta-se ao cenário que há muito tempo desenhei neste caderno: Se o PSD cai na tentação de querer a curto prazo ser poder, mesmo que acompanhado pelo CDS, provocará um reagrupamento de conveniência da esquerda, e assumirá o ónus de, muito provavelmente, ficar esturricado em pouco tempo.

E Sócrates, maquiavélico, a assistir.
Cavaco Silva? Esfíngico.

2 comments:

aix said...

Só não percebo por que,não se desenhando alternativa credível e admitindo, como as sondagens e análises indicam, que outra maioria que não PS não alteraria a situação financeira e,logo,social em que estamos mergulhados,qual é a vantagem das eleições antecipadas.Estou como diz o outro 'mudar para melhor ninguém é contra'agora mudar alguma coisa 'para que tudo fique na mesma' é um desperdício de tempo e de dinheiro

rui fonseca said...

Caríssimo Francisco,

Concordo.
Mas parece inevitável. Sócrates quer eleições, mas também quer que seja o PSD a ser culpado da sua convocação.

Posso estar errado, mas é assim que vejo o desenrolar de toda esta trama de acontecimentos.

Se o PSD for colocado na AR perante a aprovação ou rejeição do PEC 4, não vejo como possa deixá-lo passar. No caso de rejeição, Sócrates disse que se demitiria.
Se ninguém voltar atrás resta a hipótese teórica de Cavaco Silva convidar Sócrates a formar outro governo ou indicar outro que o substitua. No primeiro caso, voltar-se-ia ao cenário anterior e, portanto, não é verosímel; no segundo caso, seria necessário que Sócrates abdicasse de governar, coisa que ele, certamente, não aceitaria.