A decisão do CDS (idêntica, mas com fundamentos diferentes, às do PCP e BE) de chamar à AR a apreciação do conjunto de medidas com que Sócrates se comprometeu em Bruxelas* sem consultar nem informar ninguém - incluindo o Presidente da República, perante o qual tinha o dever constitucional de o fazer - é um brinde para o Primeiro-Ministro.
É um brinde porque i) força o PSD a pronunciar-se na AR em conformidade com as declarações públicas de Passos Coelho de não aprovar este PEC, e a chumbá-lo, ii) dá a Sócrates a oportunidade para, também conforme declarações públicas suas, declarar que não tem condições para continuar a governar e, desse modo, iii) obrigar o PR a dissolver a AR e convocar eleições.
É, claramente, o que Sócrates pretende e as oposições, por razões muito diferentes, lhe oferecem. Sem governo em efectividade de funções, tudo se complica: os juros sobem ainda mais, o recurso a ajuda externa passa a ser explícita e Sócrates argumentará que esse é o resultado de uma sofreguidão de poder por parte do PSD e do CDS** (o que é parcialmente verdade), e de uma irresponsabilidade política do PCP e BE que jogam na capitalização do descontentamento popular (o que é totalmente verdade).
Argumentos que vai repetir à saciedade durante a campanha eleitoral onde conta vencer os adversários usando os seus trunfos de malabarista exímio.
Mas, se esses argumentos se mostrarem insuficientes porque o artista fartou com as mesmas artes a assistência, que farão o PSD e o CDS sozinhos com o tição em chamas nas mãos?***
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*O anúncio das novas medidas de austeridade apanhou o país de surpresa, mas há três semanas que o novo pacote era do conhecimento de Angela Merkel, apurou o SOL. A chanceler alemã acompanhou o PEC 4 e levou Sócrates a comprometer-se com ele na reunião entre ambos em Berlim, há exactamente quinze dias.
E o primeiro-ministro terá saído mesmo dessa reunião com a certeza de que o novo acordo não iria afastar o FMI - uma vez que o acesso aos empréstimos europeus, ainda que pontuais, exigirá a aprovação deste organismo. A «análise e aconselhamento» por parte do FMI farão parte do futuro fundo de resgate europeu, admite-se até em S. Bento.
As medidas mais contestadas - o corte de pensões acima de 1.500 euros, o compromisso de não aumentar a despesa com as restantes pensões (congeladas até 2013), os despedimentos mais baratos ou os cortes na Educação e na Saúde - estão, aliás, em linha com os princípios aceites pelos países do Euro (e pelo FMI), no acordo que saiu da cimeira do passado fim-de-semana.
**Paulo Portas, para além da tentação urgente do poder, ao mesmo tempo que oferece o brinde a Sócrates coloca uma fava nas mãos de Passos Coelho.
*** Ouço a intervenção de Nobre Guedes no Congresso de hoje do CDS a pedir a reunião à volta da direcção actual do partido, apesar das divergências. Depois, quando interrogado, disse esperar que, tendo em conta o momento muito difícil com que o país se confronta, haja ainda uma forma de evitar que o PM se apresente em Bruxelas demissionário e com o PEC chumbado.
*O anúncio das novas medidas de austeridade apanhou o país de surpresa, mas há três semanas que o novo pacote era do conhecimento de Angela Merkel, apurou o SOL. A chanceler alemã acompanhou o PEC 4 e levou Sócrates a comprometer-se com ele na reunião entre ambos em Berlim, há exactamente quinze dias.
E o primeiro-ministro terá saído mesmo dessa reunião com a certeza de que o novo acordo não iria afastar o FMI - uma vez que o acesso aos empréstimos europeus, ainda que pontuais, exigirá a aprovação deste organismo. A «análise e aconselhamento» por parte do FMI farão parte do futuro fundo de resgate europeu, admite-se até em S. Bento.
As medidas mais contestadas - o corte de pensões acima de 1.500 euros, o compromisso de não aumentar a despesa com as restantes pensões (congeladas até 2013), os despedimentos mais baratos ou os cortes na Educação e na Saúde - estão, aliás, em linha com os princípios aceites pelos países do Euro (e pelo FMI), no acordo que saiu da cimeira do passado fim-de-semana.
**Paulo Portas, para além da tentação urgente do poder, ao mesmo tempo que oferece o brinde a Sócrates coloca uma fava nas mãos de Passos Coelho.
*** Ouço a intervenção de Nobre Guedes no Congresso de hoje do CDS a pedir a reunião à volta da direcção actual do partido, apesar das divergências. Depois, quando interrogado, disse esperar que, tendo em conta o momento muito difícil com que o país se confronta, haja ainda uma forma de evitar que o PM se apresente em Bruxelas demissionário e com o PEC chumbado.
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