Amanhã há manif.
Contra a precariedade laboral, contra os recibos verdes, contra o desemprego, e mais umas quantas reivindicações que só poderão ser consideradas como justas, pertinentes, oportunas, etc. e que, pelo menos segundo as perspectivas alguns, terá o polémico alto patrocínio do Presidente da República.
Com ou sem alto patrocínio, a manif promete mobilizar largas dezenas de milhares de jovens, desempregados, empregados com vínculos precários, empregados com vínculos permanentes, jovens que nem estão estão desempregados nem andam ainda à procura de emprego. Tanta gente junta não poderá deixar de excitar os apetites partidários. PCP e BE já deram conta que aderem ao desfile, os outros roem as unhas de inveja perante o desperdicio de tanto capital político a voar por cima deles.
E, no entanto, há dias o Público (vd aqui) informava os seus leitores que o ex-ministro Sevinate Pinto tinha ido ao supermercado para avaliar que bens alimentares consumiam os portugueses para concluir aquilo que toda a gente já concluiu: "... morangos ou mamão do Brasil, cogumelos da Holanda, espargos do Peru, beringelas da Espanha, nêsperas da Guatemala, amoras do México, mirtilos do Chile, romãs da Turquia ou pimentos do Uganda. Sim, também havia maçãs e pêras de Portugal, mas esta "babel" hortofrutícola que se encontra nas grandes superfícies está na origem daquilo que o também ex-ministro Gomes da Silva designa por "mito urbano". De acordo com esse "mito", Portugal deixou de ter agricultura, importa tudo o que produz, abandonou terras, estoirou as ajudas europeias na compra de jipes ou de casas em Cascais e é hoje um sector marginal e incapaz de ajudar o país a sair da crise".
Ainda segundo o mesmo artigo, Portugal importa cerca de 1/3 do que consome. Esta dependência do exterior não conta apenas para o défice com o exterior e o crescimento da dívida externa mas é uma ameaça à nossa sobrevivência no caso de um conflito mundial que coloque em causa o transporte de alimentos de longas distâncias.
O que é que tem esta dependência alimentar com uma manifestação de jovens que não têm emprego ou vêm o emprego ameaçado pela precariedade? Nada?
Pensava que tinha.
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