Saturday, March 05, 2011

GERAÇÃO LAMPREIA

O que é que pode levar mais de duas dúzias de rapazes e meia dúzia de miúdas a uma excursão de seiscentos quilómetros - saída às oito e meia do Marquês de Pombal e regresso às vinte ao mesmo sítio -  para além da lampreia, ou do cabrito assado no forno para os ciclostomófobos? A lampreia do Casimiro no Silveirinho, acompanhada de grelos locais, é uma delicatessen para os adeptos. Mas seiscentos quilómetros é muito quilómetro. E, já se disse, alguns dos excursionistas nem se atrevem a petiscar uma garfada do pitéu. Se o arroz de lampreia não vale seiscentos quilómetros o que é que pode mobilizar estes jovens para uma jornada destas? É simples: O País. 
.
O País está em maus lençois, apesar do acompanhamento do enfermo que este grupo vem realizando todas as sextas-feiras à situação económica e financeira, sem percorrer seiscentos quilómetros. Há anos que a vigília se mantém através de uma comissão quase permanente constituida por gente que vai da esquerda mais generosa à direita suficientemente pia. Duas ou três vezes por ano visitam o país real. Por alturas das acácias em flor arranjam a lampreia como motivo óbvio para a deslocação.

E, ontem, bem dispostos cumpriram os seiscentos quilómetros da praxe. O que é que ficou resolvido? Quase tudo. Ficou por resolver se o Messi é melhor que o Cristiano Ronaldo, se o Cristiano Ronaldo só tem corrida e um bom pontapé mas não finta, finta-se, se o Hulk é um fora-de-série ou um bulldozer, se o Sporting acabará por se belenizar e entregar o estádio aos bancos, se o Benfica perde as esperanças este fim-de-semana frente ao Braga.

Quando ao programa da alternativa, soube-se que se recomenda que a campanha decorra em sentido perpendicular ao programa e que, uma vez ganhas as eleições, o executivo execute o programa.
---
Na foto, uma lápide lembrando a quem passa e a quem se senta nos bancos que o passeio foi obra da Junta de Freguesia de S. Pedro de Alva. No banco, dois locais regalam-se com a obra da Junta.

2 comments:

Luciano Machado said...

Caro Rui
Não é só o País que mobiliza este grupo. Eu diria que antes de tudo está a Amizade.
É esse grande elo que permite um leque ideologicamente tão aberto discorrer à volta de coisas sérias com sentido de humor e em permanente convívio.
Muito antes de serem detectados os sintomas no país que hoje nos apoquentam já o grupo existia e foi-se abrindo, agora ainda mais sob a égide institucional da associação de antigos alunos da nossa escola.
O que é facto é que os que se juntam pela primeira vez, em geral, ficam com vontade de voltar.
Não mencionaste que lateralmente ou como vector principal da deslocação há sempre um qualquer evento de natureza cultural que torna ainda mais interessante a excursão como tu lhe chamas.
Desta vez foi a barragem da Aguieira que permitiu uma visita guiada ao coração do empreendimento e nos deu a conhecer in loco um dos modos de produção de energia da maior relevância em Portugal.
Fiz parte do grupo e não dei por mal empregue o tempo. Sem falar do preço, porque comer lampreia em Lisboa com a qualidade do Casimiro (será que há?)mesmo sem viagem não fica mais barato.
A lápide é uma ternura e uma imagem do país que temos: Com pouca coisa para celebrar dá-se honras de grande obra, a merecer lápide, um pequeno pavimento com dois bancos de jardim. Está à nossa dimensão.
Até à próxima noutras paragens e sempre com amizade.
LM

rui fonseca said...

Oh Luciano!

Se estas coisas não são levadas com um grãozinho de ironia ficamos mais vulneráveis e tatebitates antes de tempo.

Ou não?

Abç