Thursday, March 24, 2011

CLARINHA E AS POMBAS

O Paradoxo do FMI, aqui

Em várias ocasiões, o primeiro-ministro justificou a sua relutância em recorrer a ajuda externa pelo efeito perverso que a intervenção já ocorrida na Grécia e na Irlanda teve nas taxas de juro das respectivas dívidas públicas. Importa, por isso, perceber a relação de causalidade entre a submissão a um programa de financiamento externo e o agravamento dos custos de financiamento. Estes programas têm como principal benefício a garantia de financiamento a custos inferiores aos exigidos no mercado. Em contrapartida, é exigida a adopção de um conjunto alargado de medidas que visa, por uma lado, o rápido saneamento orçamental e, por outro lado, a melhoria do crescimento económico potencial. Daqui decorre, necessariamente, uma capacidade acrescida do país intervencionado em honrar os seus compromissos financeiros. Desse modo, por que haveriam os investidores exigir taxas de juro mais elevadas? Parece um paradoxo…mas não é!

A explicação normalmente avançada para desmontar este paradoxo apela aos efeitos reputacionais adversos que um pedido de ajuda alegadamente comporta – nas palavras do primeiro-ministro: a incapacidade do país resolver o problema pelos próprios meios. Acontece que para os investidores pouco importa quem resolve o quê: a sua preocupação é garantir o recebimento integral do capital emprestado.

A explicação correcta reside no facto do crédito contraído junto do FMI ser sénior relativamente à divida contraída junto de todos os outros investidores. Ou seja, em caso de incumprimento, o FMI tem primazia na cobrança, o que implica prejuízos maiores para os demais credores. Noutras palavras, a “entrada do FMI” tem como consequência a eventual penalização dos “tais especuladores” a que tanta gente aponta o dedo – muitas vezes sem saber do que fala.

Seja como for, parece incontestável que o aumento das taxas de juro onera o financiamento do estado. Esta asserção também não está correcta, pois durante o período de vigência do programa de auxílio financeiro, os estados não necessitam de recorrer ao mercado - afinal, esse é o objectivo único do recurso à ajuda externa -, tornando o nível majorado das taxas de juro praticamente irrelevante.

No cenário mais provável de eleições, é crucial que estas questões decisivas sejam tratadas com a seriedade devida e sem demagogias.

A explicação de Brandão de Brito não poderia ser mais clara.
Mas é estranhíssimo que a oposição, e muito principalmente o PSD, não clarifique a questão e desmonte os argumentos inconsistentes do governo.

Será que não lêem o Quarta República? Será que no Quarta República não conhecem o PSD?

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