Saturday, October 31, 2009

O JOGO DA CABRA CEGA

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"a própria essência da máfia que são os bancos em Portugal"

Caro António,

Não serei eu a defender a ética bancária, em Portugal ou em qualquer outra parte do mundo. Também tenho as minhas razões de queixa mas, no caso em questão, o que está em causa não é um banco mas a suspeita lançada sobre o vice-presidente de um banco, suspeita essa que, ao que parece, não se correlaciona com a sua actividade bancária.

O caso Vara é exemplar quanto à diferença que caracteriza a decisão entre o sector público e o sector estatal numa situação de suspeição de corrupção.

No sector privado, um gestor suspeito de um acto de corrupção, se não for patrão, mesmo que tal acto não decorra das suas actividades na empresa, será, pelo menos, convidado a afastar-se das suas funções até que a suspeita seja esclarecida. Custar-me-ia a acreditar que uma situação semelhante pudesse ocorrer num banco como o BES ou o BPI, por exemplo.

Acontece, e aconteceu antes, de forma muito mais escandalosa no BCP, porque nele prevalece uma conivência táctica entre alguns dos principais accionistas e o partido que recomendou a eleição do presidente e do vice-presidente do banco após o escândalo que levou à queda da anterior administração.

Vara, por razões que estão por esclarecer, tem o condão de, com alguma frequência, se ver obrigado a reclamar a sua inocência. É um relapso inocente que conta com o conforto dos camaradas que não o deixarão cair por um deslize notável quanto mais por uma ninharia de dez mil euros.

Entretanto, o inquérito do Banco de Portugal seguirá o seu curso em meandros que o tornarão interminável ou inconsequente. Os camaradas são, como se sabe, para as ocasiões. Os principais accionistas não deixarão de cobrar em devido tempo os juros da sua complacência. Os outros, a arraia miúda, entreter-se-á com as sobras.
E a CMVM assobia para o ar, como é seu hábito.

5 comments:

António said...

Bom dia.
Se quisesse investigar não faria outra coisa.
Mas quem investiga mafiosos e a própria essência da máfia que são os bancos em portugal?
Extorsão não é uma actividade mafiosa?
Então?

rui fonseca said...

"a própria essência da máfia que são os bancos em Portugal"

Caro António,

Não serei eu a defender a ética bancária, em Portugal ou qualquer parte do mundo. Também tenho as minhas razões de queixa mas, no caso em questão, o que está em causa não é o banco mas a suspeita lançada sobre o vice-presidente de um banco, suspeita essa que, ao que parece, não se correlaciona com a sua actividade no banco.

O caso Vara é exemplar quanto à diferença que caracteriza a decisão entre o sector público e o sector estatal numa situação de suspeição.

No sector privado, um gestor suspeito de um acto de corrupção, se não fosse patrão, mesmo que tal acto não decorresse das suas actividades na empresa, seria, pelo menos convidado a afastar-se das suas funções até que a suspeita fosse esclarecida.

Custa-me a acreditar que uma situação semelhante pudesse ocorrer num banco como o BES ou o BPI, por exemplo.

Acontece, e aconteceu antes, de forma muito mais escandalosa no BCP, porque nele prevalece uma conivência táctica entre alguns dos principais accionistas e o partido que recomendou a eleição do presidente e do vice-presidente do banco após o escândalo que levou à queda da anterior administração.

Vara, por razões que estão por esclarecer, tem o condão de, com alguma frequência, se ver obrigado a reclamar a sua inocência. É um relapso inocente que conta com o conforto dos camaradas que não o deixarão cair por um deslize notável quanto mais por uma ninharia de dez mil euros.

Entretanto, o inquérito do Banco de Portugal seguirá o seu curso em meandros que o tornarão interminável ou inconsequente. Os camaradas são, como se sabe, para as ocasiões. Os principais accionistas não deixarão de cobrar em devido tempo os juros da sua complacência. Os outros, a arraia miúda, entreter-se-á com as sobras. A CMVM assobia para o ar, como é seu hábito.

António said...

Boa tarde.
Grato pela sua, como sempre, elucidativa e amável resposta.
Mas como dizia o outro, olhe que não, olhe que não.
Dez mil euros, de cada vez, pelo menos. Era o preço e muita gente saberá disso. Que coisa, homem, uma cunha paga-se, ou não há almoços grátis. Fora o resto.
Quanto a continuar ou não no emprego que lhe deram, acha que um tipo daqueles vai sair?
Claro que não sai, porque estando lá dentro tem poder, cá fora não.Não sai ele nem nenhum dos outros co-cáfilas. A bem, já que um dia poderão(iam) sair a mal. Se calhar até com os pés para a frente e com a cabeça mais pesada.
Por terem o poder que as costas quentes lhes garantem é que constante e continuadamente abusam do pagode que lhes sustenta os vícios.
Até um dia.
Até já. vem aí mais.

António said...

Já vem de trás, de há muito.

A “Face oculta” do governo de Guterres - Os arguidos Armando Vara, José Penedos e os outros não arguidos

A Sovenco, criada em 1990, era uma Sociedade de Venda de Combustíveis. A sua constituição: Armando Vara, Fátima Felgueiras, José Sócrates, Virgílio de Sousa.
Armando Vara - condenado a 4 anos de prisão (pena suspensa)
Fátima Felgueiras – condenada a 3 anos e três meses de prisão (pena suspensa)
Virgílio de Sousa - condenado a prisão por um processo de corrupção no Centro de Exames de Condução de Tábua
(Blog Sonhos perdidos 11.02.05)

Armando Vara, quando era secretário de Estado adjunto do ministro da Administração Interna, recorreu ao director-geral do GEPI (Gabinete de Estudos e Planeamento de Instalações do MAI) e a engenheiros que dele dependiam para projectar a moradia que construiu perto de Montemor-o--Novo.Para fazer as obras serviu-se de uma empresa e de um grupo ao qual o GEPI adjudicava muitos dos seus concursos públicos.Com 3500 contos (17.500 euros) o actual administrador da Caixa Geral de Depósitos e licenciado pela Universidade Independente tornou-se dono, em 1998, de 13.700 m2 situados junto a Fazendas de Cortiços, a três quilómetros de Montemor-o-Novo. Em Março de 1999 requereu à câmara o licenciamento da ampliação e alteração da velha casa ali existente.
Onde a história perde a banalidade é quando se vê quem projectou e construiu a moradia. O projecto de arquitectura tem o nome de Ana Morais.
O alvará da empresa que fez a casa diz que a mesma dá pelo nome de Constrope.A arquitecta Ana Morais era à época casada com António José Morais, o então director do GEPI, que fora assessor de Armando Vara entre Novembro de 1995 e Março de 1996. Nessa altura, recorde-se, foi nomeado director do GEPI por Armando Vara - cargo em que se manteve até Junho de 2002 - e era professor de quatro das cinco disciplinas que deram a José Sócrates o título de licenciado em Engenharia pela UnI. A Constrope era uma firma de construção civil sediada em Belmonte, que também trabalhava para o GEPI e tinha entre os seus responsáveis um empresário da Covilhã, Carlos Manuel Santos Silva, então administrador da Conegil - uma empresa do grupo HLC que veio a falir e à qual o GEPI adjudicou dezenas de obras no tempo de Morais.
(Publico 20.04.07)

António said...

Oh pra eles.

Secretário de Estado compra iate por 130 mil euros a construtor

O porta-voz do Partido Socialista (PS), João Tiago Silveira, tem um barco novo. Chama-se ‘Gianzo’, pertenceu ao empresário do sector da construção civil José Guilherme (dono da Tecnovia) e é considerado o BMW dos iates. Esta marca de barcos, que é uma das mais caras do mundo, é fabricada nos estaleiros do construtor italiano Campiere del Pardo.

O Governo deixou cair as "manifestações de fortunas" na declaração de IRS deste ano, até agora visto como um instrumento fundamental para o combate à fuga e fraude fiscal. É que, ao contrário do exigido em 2006, os impressos do IRS para 2007 não obrigam à declaração de compra de bens imóveis ou viaturas acima dos 250 mil euros e 50 mil euros, respectivamente. (DN. Jan. 2007))

O PS votou ontem contra um projecto do PSD para tipificar o crime de enriquecimento ilícito, muito voltado para os detentores de cargos públicos e políticos, não permitindo sequer que o texto fosse discutido na especialidade. Os socialistas recusaram a proposta, como já tinham recusado a do seu ex-deputado João Cravinho. (Abril 2007)