Monday, June 12, 2017

DESAFIOS DE UMA MAIORIA (MUITO) ABSOLUTA

Depois dos resultados de ontem a França, que confirmaram as sondagens, os partidos tradicionais e os seus rebentos depararam-se com a perspectiva deste cenário após a segunda volta no próximo domingo:


A culpa, dizem eles, é da abstenção.
A culpa, acrescentam, é do sistema: se a eleição fosse proporcional, o partido do presidente não iria além dos 186 lugares na AN. 
E todos procuram mobilizar o eleitorado na segunda volta. 
Provavelmente, sem grande sucesso porque os abstencionistas na primeira volta não estão contra Macron mas, muito principalmente, contra os partidos tradicionais e seus filhotes. 

A abstenção, já o anotei aqui neste caderno de apontamentos, não é uma obrigação, salvo nos casos em que é uma obrigação compulsiva, mas um direito: o direito de não votar.
Em França, tudo aponta no sentido de que o centro político vai ganhar. Afinal, o centro político não está em coma mas bem desperto.
E a abstenção, contrariamente ao que dizem os mais ou menos extremos, não ganhou. Não votar não é votar. Quem se abstém, não vota, e, não votando, é absurdo atribuir uma vitória à abstenção por mais expressivo que seja o número daqueles que se abstiveram. 
E, porque há uma segunda oportunidade, a democracia não sai ferida mas robustecida qualquer que seja o nível de abstenção no próximo domingo. 

Mas o que me levou a abordar hoje o resultados das legislativas em França, mas também no Reino Unido, é o mérito relativo das eleições por círculos uninominais. Não sendo isento de eventuais efeitos negativos, é aquele que mais aproxima os cidadãos dos seus representantes na casa da democracia e que, contrariamente ao sistema proporcional, garante maior coesão dos valores que estruturam a sociedade. 

Há muito tempo que a discussão sobre a alteração do sistema vem enchendo a boca dos principais partidos em tempos de vazio eleitoral, mas ninguém avança porque ninguém cede nas prerrogativas de fazer eleger amigos e conhecidos invocando o fantasma do caciquismo. 
O caciquismo para se perpetuar precisa de suporte que lhe permita obrar sem cobrar impostos. É essa a causa da tendência para a dinossaurização dos autarcas. No caso dos deputados o efeito perverso do caciquismo é (seria) bem menor.

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