Não é um palpite, é uma inevitabilidade.
E por quê?
Mesmo dando de barato que seria tecnicamente possível que a Grécia abandonasse o euro, ou fosse posta borda fora, numa sexta-feira à tarde e reabrissem os bancos gregos dois dias depois com as contas em dracmas, para começar cada dracma igual a um euro, a mudança seria inevitavelmente acompanhada por uma campanha de populismo político levado ao rubro.
Inevitavelmente, porque as consequências imediatas de uma saída da Grécia do euro na vida da grande maioria dos gregos seriam tão dramáticas que, das duas uma, ou Tsipras &Varoufakis conquistavam a Praça Sintagma com manifestantações ululantes contra a malvada União Europeia que expulsara "a pátria da democracia" ou seriam linchados na praça. A saída da Grécia do euro desencadearia uma revolta tão profunda contra os outros membros europeus que implicaria também a saída da União Europeia. Em qualquer dos casos, glorificação ou linchamento dos protagonistas, o ressabiamento grego iria vingar-se da traição ocidental atirando-se para os braços de Putin. Salvo se, entretanto, os norte-americanos não fizessem o que a União Europeia não soube fazer: segurar a Grécia no lado de cá.
A abordagem da questão grega do ponto de vista meramente financeiro (ou económico, para quem preferir segurar o embrulho por esse lado) parece querer esquecer, para além das perdas financeiras que um "default" grego implicaria nos bolsos dos contribuintes europeus, e, muito principalmente de alemães e franceses, que a Grécia é membro da Nato. Ora é bom lembrar que a fractura geopolítica que atravessa a fronteira com a Rússia desde os Bálticos até ao Mediterrâneo voltou a dar sinais de grande intranquilidade sísmica, para além da ocupação da Crimeia e a indefinição da guerra no leste da Ucrânia . E que se os Bálticos aproveitaram a ocasião do desmoronamento soviético para se colocarem ao abrigo da União Europeia e da Nato, não é de todo descartável a hipótese que a Grécia, ressabiada, se arrogue o direito inelianável de fazer um movimento semelhante ao contrário.
Seria a concretização do sonho de Putin: reconstruir o império onde há, não tantos anos assim, foi membro da polícia política do regime que viu sossobrar. Entre outros, o governo de Budapeste há muito que não esconde a sua admiração pela liderança do novo czar das Rússias.
Entretanto, enquanto a Grécia sai ou não sai do euro, os euros continuam a sair da Grécia.
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Correl . -
Entre outros apontamentos colocados neste caderno : O abraço de Putin
Enquanto a Grécia treme, Tsipras é festejado em S. Petersburgo , Financial Times, hoje.
Entretanto, enquanto a Grécia sai ou não sai do euro, os euros continuam a sair da Grécia.
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Correl . -
Entre outros apontamentos colocados neste caderno : O abraço de Putin
Enquanto a Grécia treme, Tsipras é festejado em S. Petersburgo , Financial Times, hoje.
2 comments:
A mim parece-me mais uma das manifestações de incompetencia do governo grego.Tirando o drama do povo, governado por estes lunaticos a Grecia estava bem era fora do euro.Para todos os europeus e a continuação duma integração saudavel.
Provavelmente, a Grécia, como diz, estaria melhor fora do euro.
O problema é que entrou. E assim como a pasta dentífrica não volta à bisnaga depois de sair, é complicadíssimo sair de uma moeda forte para uma moeda fraca. Mas o maior problema é, do meu ponto de vista, a saída do euro implicar, quase inevitavelmente, a saída da UE, a menos que seja negociada e financeiramente apoiada. Caso contrário, cairá nos braços do Putin se os norte-americanos não se anteciparem.
Por outro lado, admitindo que estes governantes gregos de agora são lunáticos, a verdade é que os anteriores não se portaram lá grande coisa. Culpa de quem? Do meu ponto de vista a culpa maior , lá e cá, deve ser assacada aos bancos, ainda que, como é próprio deste sistema impróprio sejam sempre os contribuintes, de um modo ou de outro, a pagar as facturas.
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