"O horror experimentado em 1940-1941 (invasão soviética) mudou a atitude de muitos lituanos perante a guerra, que tinha sido considerado desde sempre o pior desastre possível. Até então, nas suas preces o povo pedia a Deus protecção contra a guerra, a fome, o fogo e a peste. Na primavera de 1941, o povo estava já desejoso de que começasse a guerra entre a Alemanha e a Rússia. Esperavam pela guerra, não porque simpatizassem com os alemães. Durante a Idade Média os cavaleiros teutónicos tinham pilhado a Lituânia durante 230 anos com o objectivo de conquistar o território lituano. Durante a Primeira Grande Guerra, a Lituânia suportou o jugo pesado da ocupação das tropas do Kaiser, e a anexação, em 1939, da Klaipéda, a parte mais industrializada do país. Em 1941, todo o povo da Lituânia esperava pelo fim da ocupação soviética. O início da guerra entre alemães e soviéticos provocou o júbilo generalizado entre os lituanos, e os soldados alemães foram recebidos com flores e lágrimas de alegria."
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"Segundo o plano mestre de Heinrich Himmler para o Leste, os lituanos foram considerados racicamente impuros; 80 por cento da população da Lituânia foi deportada para leste na sequência da vitória dos alemães, e o resto da população objecto de práticas de assimilação. Na Estónia e na Letónia, a deportação atingiu um nível menor, cerca de 50%." - The Tragic Pages o Lithuanian History - Vladas Terleckas
Voamos de Lisboa para Vilnius, via Varsóvia. O território sobrevoado entre as duas capitais a leste é uma contínua planície verde, mais escuro nas áreas florestadas, que, cá de cima, se confundem com o verde dos lagos e dos cursos de água. Uma planície imensa que iremos atravessar até Tallinn no norte, vizinha de Helsínquia, a 88 quilómetros, no outro lado do Golfo da Finlândia. E quase sempre o verde viçoso de extensas searas de trigo ou o amarelo vivo de manchas enormes de couve-nabiça em flor, que há-de frutificar em pequenos grãos escuros para a produção de óleo biodiesel ou, quando geneticamente modificado para redução de ácidos tóxicos, óleo alimentar. Segundo a Wiki, o óleo de colza é "a segunda fonte mundial de alimento protéico, ainda que sua importância seja só a quinta parte da soja". A recortar as searas, a floresta, uma variedade de abeto muito comum no hemisfério norte - spruce fir, para os saxónicos - facilmente identificável por um fuste alto, avermelhado, e despido de ramagens baixas, as bétulas, além de uma variedade incontável de espécie de folha caduca, agora, aquecidos pelos longos dias de sol, vestidos de tons verdes exuberantes.
As estradas são rectas e estreitas, mas geralmente bem conservadas, as autoestradas poucas e curtas. sem portagens. Passa-se por aquelas longas vias sem curvas e sem lombas e percebe-se, mesmo sem intuição castrense que tanto para os assaltantes teutónicos da Idade Média como para as tropas dos czares, as napoleónicas, as polacas, as soviéticas, as nazis, e as soviéticas outra vez, e tutti quanti quis molhar o bico em mar báltico, atravessaram aquelas paragens como faca em manteiga.
Dessas ocupações, invasões e inerentes imposições, resultou um puzzle demográfico, onde por razões mais remotas ou mais recentes predominam ainda os povos russos, e outro, religioso, surpreendente pelo número de templos erguidos para venerar de formas diversas o mesmo Deus. A originalidade, obviamente, não está no puzzle mas no número de peças que o compõem.
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Dizem-me que há 48 templos em Vilnius. Não os contei mas acredito, não por uma questão de fé mas pela sua omnipresença ao alcance da nossa vista. Há igrejas ao lado, atrás, e frente a frente umas das outras.
Os lituanos são (ou dizem-se) predominantemente católicos (77,2%). Os cristãos ortodoxos, cerca de 5%, serão na sua grande maioria russos ou resultantes das medidas de russificação impostas desde os tempos dos czares até aos das ocupações soviéticas.
Já na Letónia, onde predomina o luteranismo (34,2%), seguido do catolicismo (24,1%), e dos russos ortodoxos (17,8%), a Reforma de Lutero impôs-se mas não atravessou a fronteira a sul, e a russificação encontrou mais permeabilidade que na Lituânia, decalcando-se o puzzle demográfico sobre o puzzle religioso.
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Curiosamente, segundo o que se lê na Wikipédia, "de acordo com a mais recente pesquisa de opinião pública do Eusostat em 2005 apenas 16% dos cidadãos estonianos responderam que "Acreditam que exista um Deus", enquanto que 54%
responderam que "Acreditam que exista algum tipo de espírito ou força
vital" e 26% que "Não acreditam que exista qualquer tipo de espírito,
Deus, ou força vital". Isto, segundo a pesquisa, faria dos estonianos o
povo menos religioso de entre os então 25 membros da União Europeia. Historicamente, contudo, a Estónia foi um baluarte do Luteranismo devido à sua forte ligação com os países nórdicos. Durante o período de russificação muitos camponeses foram convertidos à Igreja Ortodoxa, mas poucos permaneceram após a queda dos czares em 1917 e a lei de liberdade religiosa de 1920."
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Se outras razões não existissem, a disparidade de puzzles religiosos entre os três países bálticos explica bem a pergunta que muitas vezes ocorre quando se olha o mapa e vê três pequenos países intransigentemente independentes uns dos outros: por que é que os tipos não se juntam nem nunca juntaram, mas agora, por razões que se percebem bem, acolheram-se debaixo dos chapéus da Nato e da UE.
Vilnius - Praça da Catedral
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