Friday, October 17, 2008

VIVER ACIMA

É frequente ouvir-se que, em Portugal, temos vivido acima das nossas possibilidades, tendo financiado a nossa extravagância com endividamento que agora atrofia a economia das famílias, das empresas, do Estado, e, não inesperadamente, dos bancos.
.
Um Amigo meu costuma lembrar-me que, tendo uma grande parte do endividamento sido dirigido para a compra de habitação própria, o endividamento das famílias portuguesas não é comparável com o das famílias europeias onde a propriedade de casa própria não tem a extensão que, em termos relativos, atingiu entre nós. E que, por outro lado, o valor desse endividamento deve comparar-se, em termos financeiramente actualizados, com o dos activos adquiridos, para uma correcta avaliação da solvência das famílias portuguesas. O que é verdade. Claramente, não está na mesma situação, do ponto de vista da avaliação material, quem tem uma dívida porque comprou casa e quem está endividado porque perdeu na bolsa ou no casino, por exemplo.
.
A questão do endividamento das famílias está longe de apoquentar apenas as famílias portuguesas. Nos EUA (vd. artigo de Robert Reich a seguir), por exemplo, a crise que despoletou o actual desaire financeiro teve a sua origem na ruptura observada nas finanças familiares.
Em Portugal, apesar das garantias pessoais, que têm bloqueado um desmoronamento mais rápido do contratos de empréstimos (a prestação da casa é prioritária), começa a observar-se com cadência crescente o incumprimento dos devedores aos bancos. O governo decidiu criar um instituto que suporte, temporariamente, a suspensão do pagamento das prestações aos bancos substituindo-as por rendas ao instituto mais reduzidas que as prestações. O que parece ser uma boa medida, se funcionar.
.
Realmente o endividamento das famílias dedicado à compra de habitação própria tem uma configuração económica bem diferente daquele que foi utilizado em consumos, embora tenha o mesmo enquadramento estatístico. Mas não deixa de ser endividamento e, por isso mesmo, ter um efeito igual sobre os orçamentos familiares quando estes se comprimem, porque se perdeu o emprego ou porque os aumentos salariais não acompanharam a inflação.
.
Post-Meltdown Mythologies (I): Americans Have Been Living Beyond Their Means
.
What brought on the economic meltdown of 2008? Besides the bursting of the housing bubble, Wall Street's malfeasance and non-feasance, and Washington's massive failure to oversee Wall Street, fingers are also being pointed at average Americans. Some of them took on mortgages they couldn't afford, of course, but we're also hearing a more basic theme that goes something like this: For too long, Americans have been living beyond our means. We went too deeply into debt. And now we're paying the inevitable price. The "living beyond our means" argument, with its thinly-veiled suggestion of moral terpitude, is technically correct. Over the last fifteen years, average household debt has soared to record levels, and the typical American family has taken on more of debt than it can safely manage. That became crystal clear when the housing bubble burst and home prices fell, eliminating easy home equity loans and refinancings.
But this story leaves out one very important fact. Since the year 2000, median family income has been dropping, adjusted for inflation. One of the main reasons the typical family has taken on more debt has been to maintain its living standards in the face of these declining real incomes.It's not as if the typical family suddenly went on a spending binge --- buying yachts and fancy cars and taking ocean cruises. No, the typical family just tried to keep going as it had before. But with real incomes dropping, and the costs of necessities like gas, heating oil, food, health insurance, and even college tuitions all soaring, the only way to keep going as before was to borrow more. You might see this as a moral failure, but I think it's more accurate to view it as an ongoing struggle to stay afloat when the boat's sinking.The "living beyond our means" argument suggests that the answer over the long term is for American families to become more responsible and not spend more than they earn. Well, that may be necessary but it's hardly sufficient.The real answer over the long term is to restore middle-class earnings so families don't have to go deep into debt to maintain what was a middle-class standard of living. And that requires, among other things, affordable health insurance, tax credits for college tuition, good schools, and an energy policy that's less dependent on oil, the price of which is going to continue to rise as demand soars in China, India, and elsewhere.In other words, the way to make sure Americans don't live beyond their means is to give them back the means.

1 comment:

Rui Fonseca said...

DV, disse, por e-mail:

Só " afirmei" que a comparação internacional, em termos de endividamento por crédito à habitação, devia ser corrigido por:
1- fluxo futuro de rendas "estimadas" , abatendo obviamente ao fluxo menal dos encargos bancários, e
2- e valor futuro do imóvel actualizado.
O que as familias, que não foram para o desemprego, poderão ter é , como os bancos , um problema de liquidez por força da subida conjuntural das taxas de juro, desde os seus rendimentos se mantenham. Para as que foram para o desemprego, teriam de continuar a pagar rendas aos senhorios ou prestações mensais aos bancos (os novos senhorios), e o seu destino , em qualquer dos dois casos - com ou sem empréstimo bancário- é irem para a RUA.


SE o problema da banca portuguesa fosse o crédito à habitação , estava a Pátria salva: 1º - houve "algum" rigor rigor na concessão do crédito; 2º - a valorização do imóvel só excepcionalmente permitia aumentar o valor do empréstimo; 3º -não consta que tenham alavancado o crédito através de outros produtos.


A finalizar: atribuir apenas a quem se endivida a responsabilidade de estar a viver acima das suas posses é estar a ver apenas uma parte do problema. E a responsabilidade do banqueiro na concessão e na promoção descarada do crédito? Em França, se bem me lembro, nas décadas de 60/70 havia - não sei se ainda há - a responsabilização do banqueiro por créditos mal concedidos.