Friday, June 13, 2008

NÃO (H) À EUROPA - 3

· Sword swallower Space Cowboy (Chayne Hultgren) breaks a Guinness world record by swallowing 27 swords decorated with flags of the 27 EU member states in Dublin yesterday to publicise this weekend's third annual Street Performance Championship.
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THE RESULT of the Lisbon Treaty referendum will be declared this afternoon
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A esta hora ainda não são conhecidos os resultados do referendo dos irlandeses ao Tratado de Lisboa. Provavelmente só serão divulgados esta tarde. Segundo percebi, existe uma tradição política irlandesa de compasso de espera alargado entre o encerramento da votação e a publicação dos resultados. Entretanto centenas de milhões de europeus aguardam a saída da pauta do exame para saberem se uma ínfima parte deles, arvorada em júri supremo, deixa passar a Europa. É a preversão completa da democracia encomendada à demagogia.
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Para além do que já se sabia, e sabia-se há muito que a motivação dos votos em referendos destes nada tem a ver com o seu objecto, podia ler-se ontem no Público que Brian Cowen, primeiro-ministro e líder da campanha do sim, foi particularmente eloquente quando reconheceu que não leu a totalidade do tratado. Charlie McCreevy, comissário europeu irlandês, foi ainda mais longe ao garantir que ninguém "são de espírito" o faria.
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Só há mesmo uma receita para estas palhaçadas: Quem vota contra, sai. A Irlanda, se votar não
deveria sair. No mínimo o seu governo deveria demitir-se.
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A Irlanda é o membro da UE com o segundo mais elevado rendimento por habitante. Era uma das mais pobres sociedades europeias quando aderiu ao Mercado Comum há 35 anos. Os partidários do não promoveram a intoxicação da opinião pública com temas que nada têm a ver com o tratado: aborto, casamentos gay, neutralidade militar. A maior parte, contudo, dos que votam não fazem-no por não entenderem o Tratado. Nada que já não se soubesse. À excepção dos projectistas deste imbróglio, pelos vistos.

13 comments:

António said...

Bom dia,
O que pra qui vai!
Como é que centenas de milhões de europeus estão dependentes de uma ínfima parte deles?
Ou o contrário?
Uma ínfima parte dos europeus, os governantes, estão dependentes de alguns milhões?
Não deveria ser o cidadão, em cada país a dizer se sim ou não?
Alguém me explicou, a si ou aos outros milhões de europeus, que raio de coisa é aquele tal tratado? Ou tenho de comprar o livro, lê-lo todo e contratar um político, advogado, ou as duas coisas, para me explicar, dourar e polir tão util e simpático tratado?
Pessoalmente, acho uma violência escreverem e assinarem o que quer que seja fazendo das minhas costas tampo de secretária.
O que se tem passado em termos de "aprovações" deste famoso tratado é mau para nós. Talvez os Irlandeses nos salvem.
É que já dizia o outro:
O que é bom para os políticos, é mau para nós.
Por isso, para mim, aquilo, coisa boa não é...

Rui Fonseca said...

Não António, desta vez não concordo consigo.

Foi para situações destas e outras parecidas que foi inventada a democracia representativa.

A democracia directa descamba facilmente na demagogia. Aconteceu mais uma vez.

Os irlandeses que votarm não fizeram-no porque

. não querem o aborto
. não querem casmentos gays
. não querem envolvimento militar

Poderiam não quere também leitão à moda da bairrada, ou frango de cabidela, ou lampreia à bordalesa, ou bacalhau com todos, etc.

Mas nada disso está no Tratado.

A grande responsabilidade desta confusão, contudo, é dos políticos que embarcaram num processo que tinha todos os ingredientes para rebentar com uma picadela de mosquito.

A única saída possível é esta: Referendo sobre a permanência com este (ou outro tratado). Quem não quer sai.

Se não andamos a brincar todos às Europas.

Reconheço, no entanto, que tudo isto é muito pouco importante quando confrontado com o contrato de Scolari, por exemplo.

António said...

Eu não falei no Scolari, nem mencionei esse assunto.

O pm prtuguês, quando andava em campanha eleitoral e depois disso, garantiu que haveria referendo ao tratado.
Quando se apanhou com maioria absoluta, qual ditador, borrifou-se para o que prometeu e a quem prometeu.
Agora amanhem-se.
Eu, não considero os Holandeses, nem os Irlandeses estupidos.
Isso de misturar religião e outras coisas é um argumentozinho para justificar que só os burros, os beatos e os atrasados foram votar.
É nítido que todos os inteligentes, modernos e esclarecidos ficaram nos pubs a emburricar cerveja.
Tenha paciência.

Rui Fonseca said...

Caro António,

Eu só referi o Scolari porque, ouvindo os noticiários, a questão do referendo na Irlanda é subalterna. Não penso que muitos careçam de explicações acerca do Tratado ou que as procurem, a esmagadora maioria jamais estaria disponível para o entender. Estou muito ciente que esse não é o seu caso. Mas muitos que votaram não na Irlanda fizeram-no, segundo o que pode ler-se nos jornais, porque não entenderam o Tratado, outros porque lhes disseram vam aí o aborto, vêm aí os casamentos gay, vêm aí a retirada de crianças à tutela dos pais acima dos 3 anos!!! Tudo falso, mas foi em nome dessa falsidade que a maioria votou contra.

Há pessoas conscientes que votaram sim? Claro que há. Mas provou-se mais uma vez que a demagogia à solta ganha à democracia.

Quanto à promessa do PM não cumprida, para mim que sou contra o referendo,bato palmas pelo incumprimento. Ninguém vota num candidato esperando que ele cumpra todas as promessas que faz. Por vezes espera-se que ele não cumpra algumas: aquelas com as quais não estamos de acordo.

Não concorda?

António said...

Não concordo nada.
Não concordo e não gosto de gente que vicia o jogo, que marca as cartas.
Se a constituição era má e os Franceses disseram não, em vez de emendar o que os povos acharam mal, o que fizeram ?
Emendaram, mudaram o nome à coisa.
Acharam esses senhores que, muda-se o nome, muda-se a vontade. São cegos, não vêem.
Eu não sou cego e não goste que me atirem areia para os olhos.
Caso queiram uma Constituição Europeia, façam-na como deve ser, com seriedade, simples e sem subterfugios bacocos que lhes permitam vir agora carpir que o povo é estupido.
Um bom exemplo da crapulice de alguns desses senhores é a declaração de um ministro de um país do sul da Europa, em que defende que tem de haver outras soluções que não passem pela voz dos interessados ou do "alvo".
Vê?
Se querem uma Constituição para todos, mostrem o jogo.
Assim não gosto e não estou só.
No lugar deles, lavava as mãos e começava já hoje a trabalhar.

Rui Fonseca said...

Caro António,

No campo dos princípios subscrevo a sua opinião. O problema é que a política é a arte do possível, dizem, eu nunca experimentei.

Assim sendo não há tratado, por mais que se esmerem, que possa agradar a todos e em tudo.

Eu tenho de acreditar que essa gente que se debruça sobre estas coisas, que no fim obtem um consenso que leva a que todos os representantes subscrevam, chegaram à melhor resultante possível.

Quanto a perguntar-lhe se não concorda, a intenção da minha pergunta era outra e vinha a propósito das promessas do PM.

Parece-me ser mais pragmático avaliar os políticos por aquilo que fazem do que por aquilo que prometem.

Até porque prometem um leque de coisas que é difícil um cidadão estar de acordo com todas elas. O que faz o eleitos mais ou menos consciente: Se o seu voto não é do contra o governo incumbente (caso mais frequente) a opção de voto faz-se em função de parte das propostas. Só para os partidários todas as propostas do seu candidato são boas.

Assim sendo, um cidadão como eu, vota naquilo que maioritariamente lhe parece melhor. Se não considera o referendo na primeira linha das suas preocupações o referendo não é para ele motivo de exclusão do candidato que o propõe.

Mas se esse candidato se torna governo e não cumpre aquela promessa que eu não comprava, o seu leque de promessas que eu apoio aumenta.

Penso que o mesmo se passará consigo?

Ou prefere que o candidato que passou a governo honre a promessa, mesmo que ele próprio tenha mudado de ideias, e vá no sentido oposto aquele que é o seu?

António said...

"Penso que o mesmo se passará consigo?"

E pesa muito bem (como é costume. ;-))

António said...

Não é pesa, é pensa.
Pensa bem, como de costume.

As minhas desculpas.

A Chata said...

O que acha da hipótese de este NÂO ser apenas um grito de descontentamento social que não está associado ao tratado em si(que palpita-me foi lido por um número insignificante de pessoas) mas, à degradação das condições de vida.
Desemprego, salários baixos, comida cara, endividamento extremo...
Tenho a sensação que se tentassem referendar o tratado em Portugal, Bálgica, França, Itális ou Grécia o resultado seria o mesmo. NÂO!

A Chata said...

Peço desculpa, queria dizer Bélgica e Itália obviamente

Rui Fonseca said...

Cara amiga,

Penso exactamente isso mesmo: um referendo é uma válvula de escape para todas as frustações e medos do momento.

No caso da Irlanda há mais medos que frustações à solta. Têm o segundo maior rendimento médio da UE mas continuam agarrados amedrontados a muitas ideias antigas. Que, aliás, não constam do tratado.

A Chata said...

Será que os medos e frustações não têem razão de ser?
Olhe par os protestos. Agricultores, pescadores, camionistasm população em geral.
Será que as condições de vida na Europa não estarão a degradar-se a um ritmo acelerado?
Endividamento, desemprego, aumentos dos preços dos combustíveis e como consequencia aumentos de todos os bens e serviços.
O preço da alimentação que não pára de crescer.
Penso que são tudo razões para, como diz alguém:
Be afraid, be very afraid...

Têem medo e cada vez mais revolta.

Para já não falar do completo descrédito em que cairam os politicos que já nem um carro em segunda mão conseguiriam vender ao comum dos cidadãos, tantas têem sido as falcatruas, os favorecimentos pessoais e as promessas não cumpridas.

Rui Fonseca said...

Minha Cara Amiga,

Os tempos não vão de feição para muita gente, é verdade, mas nada disso tem que ver com o Tratado de Lisboa.

Mas, confirma-se, e o seu testemunho é exemplo disso, que o instituto do referendo é geralmente utilizado como meio de descarga de todas as insatisfações, frequentemente de sinal contrário: voto não porque não gosto de X, voto não porque gosto de X.

Donde, para mim é claro, que um referendo não é um instrumento de avaliação democrática acerca de um assunto complexo como é o caso do Tratado.