Saturday, June 28, 2008

A INOCÊNCIA DOS ESPECULADORES

Luís Aguiar-Conraria aborda no seu blog a questão económica mais discutida nos últimos tempos: a culpa dos especuladores no crescimento dos preços do petróleo. A posição de LA-C, sem contestar os argumentos de Paul Krugman, que vão no sentido de absolver os especuladores, recomenda que, a haver recurso para autoridade na matéria, essa autoridade não deve buscar-se em Krugman. Terá, certamente boas razões para o afirmar, até porque tem dedicado, segundo julgo saber, parte do seu trabalho de investigação ao assunto.
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Para mim, ainda mesmo antes de conhecer as conclusões de Krugman, também a situação foi sempre muito clara: aquilo que determina o crescimento dos preços do petróleo, ou de qualquer outra commodity, é o excesso de procura sobre a oferta, excesso esse que pode ser ( e é, frequentemente) potencializado por especulação sobre a forma de açambarcamento. Mas esse açambarcamento tem limites definidos pelas capacidades de armazenagem disponíveis.
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O que distingue a exposição a factores especulativos do negócio do crude dos de outras commodities é, fundamentalmente, o facto de transaccionar um recurso não renovável e os investimentos que a alta rentabilidade atrair para o aumento das capacidades de extracção acelerarem o processo de esgotamento com redobradas consequências nos preços a longo prazo.
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A especulação de que mais se fala é diferente: a do investimento financeiros em futuros. Esses investimentos, contudo, se beneficiam do factor especulativo resultante do aumento anormal de stocks, não potenciam eles próprios os seus ganhos. Realmente, esses contratos podem não envolver qualquer concretização de fornecimentos de crude. O contrato pode ser um seguro que simplesmente transfere o risco de aumento/redução de preços a prazo ou uma aposta como qualquer investimento financeiro em bolsa.
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Paul Krugman é, obviamente, um excelente economista. Daqueles que pode vir a ganhar o prémio Nobel (apesar de me parecer que já esteve mais perto do que está agora). Não me passa pela cabeça pôr em causa a sua autoridade enquanto (macro) economista. Mas falar dele enquanto autoridade sobre preços de petróleo? A não ser que eu me engane muito, Krugman nunca fez nada relacionado com petróleo. A sua obra é vasta, mas a sua autoridade científica sobre este assunto específico é zero.
Quando recorremos a argumentos de autoridade, tenho a ideia de que recorremos sempre às mesmas autoridades. Para alguns é o Hayek, para outros o Friedman e, entre os vivos, Paul Krugman é uma autoridade muito comum. Mas dificilmente alguém será uma autoridade em todos os assuntos. Se queremos usar um argumento de autoridade, temos primeiro de encontrar a autoridade.
Neste assunto, a maior autoridade é
James Hamilton. Desde os anos 80 que estuda o assunto. Desde os anos 80 que já produziu (e ainda produz) investigação relevantíssima nesta área. Desde definir e re-definir o significado de choque petrolífero à análise empírica e teórica de como estes choques se propagam para a macroeconomia.
Fica o link para
o seu último artigo sobre o assunto. Já agora, na secção sobre especulação, Hamilton termina assim: an ongoing speculative price bubble would have to result in continuous inventory accumulation, or else be ratified by cuts in production. The former is clearly unsustainable, and if it is the latter, one might make the case that the supply cuts rather than the speculation itself has been the ultimate cause of the price increase.

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