Thursday, October 25, 2007

RANKINGS

Com a divulgação dos rankings do ensino secundário começam as mais diversas explicações dos
vários por quês que estas divulgações suscitam. Para O Jumento
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"Os rankings das escolas secundárias que vão sendo divulgados todos os anos mostram que a massificação do ensino não resultou em maior igualdade social, antes pelo contrário, o sucesso das escolas privadas evidencia que o actual modelo de ensino gera desigualdades. Os mais pobres poderão ter agora mais oportunidades de aceder ao ensino, concluir a escolaridade obrigatória ou mesmo conseguir um curso universitário, mas isso não significa maior igualdade social."
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Percebo a sua intenção mas discordo em grande parte do seu raciocínio.

Concordo que as desigualdades persistem e são por demais flagrantes. Mas afirmar que "a massificação do ensino não resultou em maior igualdade social, " carece de lógica.

Pelo menos por três razões:

- Aquilo que v. chama massificação permitiu fazer entrar no ensino secundário (é desse que v. fala quando fala dos rankings acabados de sair, mas já lá vamos ao ensino superior) milhares e milhares de jovens (por isso v. fala de massificação) que antes não entravam.
A passagem pela escola (lamentavelmente muitos abandonam sem concluir mas esse é outro aspecto, que também analisaremos) permite aceder a um grau de instrução (ainda que sofrível em muitos casos) que necessariamente permite alguma ascensão social. Dizer o contrário seria contrariar o que muita gente diz: a instrução é condição necessária para a promoção do desenvolvimento humano.

- Diz ainda v. que "o sucesso das escolas privadas evidencia que o actual modelo de ensino gera desigualdades" . Também neste caso não se descortina nexo entra causa e efeito. Porque é que o sucesso das privadas gera desigualdades? Por serem privadas? Por serem pagas e frequentadas por aqueles que podem pagar? Repare que a desigualdade está antes da escola. Não é a escola que, por ser privada, a provoca ou acentua.

- É um facto que tendencialmente as privadas são frequentadas pelos filhos de pessoas com maiores rendimentos. Mas nem sempre é assim. (...)

Há, evidentemente, razões sociológicas e económicas que justificam em grande parte o sucesso das privadas (no ensino secundário) relativamente às públicas. Isso é incontestável. Mas não justificam tudo. E, sobretudo, não acentuam as desigualdades como v. refere.

Uma parte mais ou menos significativa daquele sucesso também resulta da forma como os professores são recrutados e das exigências a que estão submetidos.

Na escola pública, até agora, os professores foram admitidos sem quaisquer provas de competência. Ao longo da carreira eram promovidos por antiguidade. Por mais incompetente que fosse tinha o lugar garantido e a promoção assegurada.

V. sabe bem que assim é, temos abordado esta questão aqui mesmo várias vezes já.

Os sindicatos dos professores realizaram ao longo de vários anos uma empreitada de perpetuação da incompetência e da irresponsabilidade.

E, nestas, circunstâncias, paga o justo pelo pecador.

Tudo o que atrás referi se reporta ao ensino secundário. Porque no ensino superior, é espantoso, com excepção da Católica (não conheço outra, não garanto que não haja) os mais abonados frequentam o ensino público e os mais desabonados o ensino privado...

Por razões conhecidas que não vale agora a pena referir. Mas que também aqui mesmo já tenho debatido consigo.

Para terminar deixo-lhe 3 questões que não vejo levantadas por ninguém:

1º. Por que gastamos quase tanto com a Defesa como com o ensino superior?

2º. Por que é que continuamos com o ensino superior quase gratuito quando as nossas maiores insuficiências educativas estão no secundário?

3º. Por que é que a Defesa terá em 2008 um aumento de 8,5%, o mesmo do ensino superior, e o ensino secundário não tem qualquer aumento?

Meu caro J., já vai longa esta missiva mas antes de terminá-la ainda queria acrescentar o seguinte:

O 25 de Abril apresentou um caderno reivindicativo - Paz, Pão, Saúde, Habitação.

De guerra, ninguém se queixa
De pão, estamos, em média, bem alimentados. Eu disse, em média.
De saúde, não estamos mal classificados
De habitação, temos 30% de habitações a mais do que famílias.

Tudo em termos médios.

Repare que do caderno reivindicativo não constava a Educação.

E continua a não constar. E aí é que está o problema. A generalidade dos portugueses não vê a educação dos seus filhos como o melhor investimento. A maior parte dos estudantes não se interessa pela qualidade do ensino. Basta-lhes que passem.

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