Ontem, manifestaram-se os taxistas contra os uberistas e outros privados transportadores públicos de passageiros, que eles, taxistas, consideram ilegais. Os presidentes das Câmaras de Lisboa e Porto alinharam pelos taxistas; segundo as sondagens, o público alinha crescentemente pela Uber, e considera o comportamento dos taxistas frequentemente incorrecto.
Qualquer que seja o resultado imediato, no final ganhará a Uber e outros operadores semelhantes. Cá, e em toda a parte. É uma questão de tempo.
Também ontem, foi anunciada para hoje a divulgação de um manifesto - vd. aqui - de um grupo de reflexão preocupado com a evolução do sector bancário em Portugal que pretende garantir que a recomposição accionista de bancos como o BCP e o Novo Banco não seja feita de forma semelhante à do Banif, tenha em conta os interesses nacionais e que assegure os pré-requisitos ao desenvolvimento sustentável do país não são comprometidos.
Consideram os subscritores do anúncio que "a crise do sector bancário e o recente arranque da implementação da União Bancária Europeia tornam inevitável uma profunda reconfiguração do nosso sector financeiro".
Além de outros, que serão, provavelmente, anunciados hoje, são subscritores do manifesto Alberto Regueira, António Barreto, João Salgueiro, José António Girão, Júlio Castro Caldas, Manuel Pinto Barbosa, Manuel Ferreira Leite, Bagão Félix, Eduardo Catroga, Rui Rio, Freitas do Amaral, João Ferreira do Amaral, José Roquette, Miguel Beleza, Nuno Morais Sarmento.
Curioso é que, pelo menos alguns dos manifestantes, que ocuparam posições de relevo tanto na banca como no ministério das Finanças, só agora acordem sobressaltados com os estilhaços e a lama da erupção de um vulcão de escórias, vista, ouvida e sentida em todo lado, desde há oito anos a esta parte.
De entre eles, destaca-se, pela pesada distracção, o sr. João Salgueiro e, pela leveza de carácter o sr. José Roquette.
O primeiro foi, durante anos, presidente da Associação Portuguesa de Bancos, depois de ter presidido ao Banco de Fomento Nacional, tendo assistido, pelo menos sem o mínimo estremecimento público, à alegria gananciosa dos banqueiros a importar crédito, e a reexportar algum, que claramente excedia a capacidade de reembolso do Estado e dos particulares; o segundo pelo seu engenho, com o seu grupo de reflexão de então, na invenção das "totinhas" de tamanho adequado aos buracos na lei das privatizações para fazer chegar o Totta ao Banesto, na altura presidido por Mário Conde*, que alguns tempos depois seria condenado a prisão em Espanha. Se a hipocrisia pagasse imposto seria bem menor o índice de desigualdade em Portugal.
Candidamente, esperemos que da reflexão do grupo resulte algum remendo nas extensas rupturas provocadas no tecido financeiro por crimes à espera de não serem julgados.
---
Correl . - "Banqueros de rapiña" (1994)