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Ganhámos.
Ganhámos porque a Figueira em meados do século passado vivia da praia no Verão e hibernava no Inverno. Actividades industriais havia poucas e ameaçadas: o Estaleiros Navais do Mondego, os Cimentos do Cabo Mondego, a Vidreira da Fontela e pouco mais. A Figueira de então atraía turistas em Julho e Agosto, muitos deles da Estremadura espanhola, e repelia os seus naturais, que não encontravam emprego. A agricultura no concelho era abandonada pela maioria dos que nela tinham nascido, os homens iam a salto para França, Luxemburgo, Alemanha, e de lá chamavam as famílias, porque cá não havia trabalho para eles.
A pesca era uma actividade pobre e arriscada. Para além de todas as ameaças ao largo, a entrada na barra era uma roleta russa porque o assoreamento constante reduzia a abertura da porta e impedia que as embarcações se safassem sem perigo.
Para além de uma muito restrita minoria pequeno-burguesa ligada a actividades comerciais, na Figueira só permaneciam os funcionários do Estado (Finanças, Tribunal, Ensino, Exército) da Câmara Municipal, alguns advogados, alguns médicos, farmacêuticos, e pouco mais.
O figueirense que não emigrasse e vivesse das expectativas do Verão levava a maior parte da vida a ver o tempo passar.
Os molhes de encaixe do rio vieram permitir a existência de um porto de abrigo, pequeno mas seguro, a custo da qualidade da praia.
Acontece que é por essa altura que o interesse pelas praias do Sul começa a levar os veraneantes para o Algarve, como já tinha levado para o Sul de Espanha e, ainda antes, para o Mediterrâneo em França. A praia da Figueira, como a de Espinho, e muitas outras da Costa Norte Atlântica, mais frias que as do Sul, deixaram de ter o interesse para as banhistas em biquíni. E eles atrás delas.
Se a praia de hoje fosse a praia dos anos 50 do século passado, a Figueira teria mais turistas durante os dois/três meses em que se esgotam as condições climatéricas propícias? Não creio que tivesse significativamente muitos mais.
Aliás, considero que o atraso económico e social observado pela Figueira até à chegada das indústrias de celulose e papel se deve em grande parte à praia: induzidos por um "boom" periódico de actividades à volta da praia, muitos figueirenses esqueceram-se que deveriam trabalhar durante todo o ano*. Só assim se explica que, a Norte, Aveiro, e a Sul, Leiria, tenham experimentado níveis de crescimento económico muito superiores. Coimbra, que não tinha praia mas tinha estudantes, também estagnou.
A chegada das celuloses à Figueira, e muito principalmente da Soporcel pela dimensão que veio a atingir, alterou substancialmente, ainda que menos do que poderia, o panorama de crescimento económico. E digo menos do que poderia, porque um parque industrial pensado nos anos 80 foi criado ali ao lado mais com intenções político partidárias do que com objectivos sérios de desenvolvimento. E não chegou a sair das cascas.
Quanto ao impacto ambiental, não creio que actividade industrial a Sul possa razoavelmente ser acusada da degradação do ambiente ou causa de repulsão da actividade turística.
Mas já pode ser atribuída muita degradação ecológica à incompetência, ao desleixo, e provavelmente a outras causa indignas. A Serra da Boa Viagem desvastada pelos incêndios está há muitos anos a ser repovoada naturalmente por acácias e outras pragas. Passo por lá de vez em quando, e o que me desgosta mais não é a extensão do areal lá em baixo mas o abandono em que se encontra aquilo que era uma maravilha cá em cima.
Ganhámos porque a Figueira em meados do século passado vivia da praia no Verão e hibernava no Inverno. Actividades industriais havia poucas e ameaçadas: o Estaleiros Navais do Mondego, os Cimentos do Cabo Mondego, a Vidreira da Fontela e pouco mais. A Figueira de então atraía turistas em Julho e Agosto, muitos deles da Estremadura espanhola, e repelia os seus naturais, que não encontravam emprego. A agricultura no concelho era abandonada pela maioria dos que nela tinham nascido, os homens iam a salto para França, Luxemburgo, Alemanha, e de lá chamavam as famílias, porque cá não havia trabalho para eles.
A pesca era uma actividade pobre e arriscada. Para além de todas as ameaças ao largo, a entrada na barra era uma roleta russa porque o assoreamento constante reduzia a abertura da porta e impedia que as embarcações se safassem sem perigo.
Para além de uma muito restrita minoria pequeno-burguesa ligada a actividades comerciais, na Figueira só permaneciam os funcionários do Estado (Finanças, Tribunal, Ensino, Exército) da Câmara Municipal, alguns advogados, alguns médicos, farmacêuticos, e pouco mais.
O figueirense que não emigrasse e vivesse das expectativas do Verão levava a maior parte da vida a ver o tempo passar.
Os molhes de encaixe do rio vieram permitir a existência de um porto de abrigo, pequeno mas seguro, a custo da qualidade da praia.
Acontece que é por essa altura que o interesse pelas praias do Sul começa a levar os veraneantes para o Algarve, como já tinha levado para o Sul de Espanha e, ainda antes, para o Mediterrâneo em França. A praia da Figueira, como a de Espinho, e muitas outras da Costa Norte Atlântica, mais frias que as do Sul, deixaram de ter o interesse para as banhistas em biquíni. E eles atrás delas.
Se a praia de hoje fosse a praia dos anos 50 do século passado, a Figueira teria mais turistas durante os dois/três meses em que se esgotam as condições climatéricas propícias? Não creio que tivesse significativamente muitos mais.
Aliás, considero que o atraso económico e social observado pela Figueira até à chegada das indústrias de celulose e papel se deve em grande parte à praia: induzidos por um "boom" periódico de actividades à volta da praia, muitos figueirenses esqueceram-se que deveriam trabalhar durante todo o ano*. Só assim se explica que, a Norte, Aveiro, e a Sul, Leiria, tenham experimentado níveis de crescimento económico muito superiores. Coimbra, que não tinha praia mas tinha estudantes, também estagnou.
A chegada das celuloses à Figueira, e muito principalmente da Soporcel pela dimensão que veio a atingir, alterou substancialmente, ainda que menos do que poderia, o panorama de crescimento económico. E digo menos do que poderia, porque um parque industrial pensado nos anos 80 foi criado ali ao lado mais com intenções político partidárias do que com objectivos sérios de desenvolvimento. E não chegou a sair das cascas.
Quanto ao impacto ambiental, não creio que actividade industrial a Sul possa razoavelmente ser acusada da degradação do ambiente ou causa de repulsão da actividade turística.
Mas já pode ser atribuída muita degradação ecológica à incompetência, ao desleixo, e provavelmente a outras causa indignas. A Serra da Boa Viagem desvastada pelos incêndios está há muitos anos a ser repovoada naturalmente por acácias e outras pragas. Passo por lá de vez em quando, e o que me desgosta mais não é a extensão do areal lá em baixo mas o abandono em que se encontra aquilo que era uma maravilha cá em cima.
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*Passa-se o mesmo fenómeno no Algarve, mas em mais larga escala. O turismo induziu a construção massificada, arruinou parte significativa da orla marítima, e canibalizou praticamente todas as outras actividades produtivas.