Sunday, June 28, 2009

CUSTOS DO DESEMPREGO

Segundo o INE, "em 2008, o PIB registou uma variação nula em volume, o que compara com a variação de 1,9% verificada no ano anterior. Este comportamento resultou, sobretudo, do intenso contributo negativo da procura externa líquida para o crescimento do PIB, mas também da desaceleração da procura interna. Em termos nominais, o PIB ascendeu a cerca de 166 mil milhões de euros, mais 1,8% que o valor do ano anterior."

Segundo o documento dos 51, "uma taxa de desemprego de 10% é o sinal de uma economia falhada, que custa a Portugal cerca de 21 mil milhões de euros por ano – a capacidade de produção que é desperdiçada, mais a despesa em custos de protecção social".

Mas as contas não podem estar bem feitas. Se não vejamos: Se todos os desempregados (os 10%) passassem (hipótese inverosímil) a trabalhar isso significaria que o PIB aumentaria 21 mil milhões? Não. Quanto muito, e partindo do princípio que os desempregados seriam, em média, tão produtivos quanto os actualmente empregados, aumentaria cerca de 10%, ou seja cerca de 16,6 mil milhões. A diferença (4,4 mil milhões) terão então que ser atribuídos aos custos com a protecção social.
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Contudo, não faz sentido somar o valor da produção com o valor da poupança para calcular a riqueza produzida, ou desperdiçada, consoante o ponto de vista. Se o Estado, por hipótese absurda, não pagasse nenhuma contribuição social, pouparia os tais 4,4 mil milhões que poderia aplicar em investimento, que, por sua vez, poderia gerar mais riqueza, sem criar mais postos de trabalho uma vez que se tinha chegado a uma situação de emprego total.

Em conclusão: O redactor do manifesto dos 51 exagerou nos cálculos, os outros subscritores assinaram de cruz.
Porque não é admissível que não saibam fazer estas contas nem saber que a hipótese considerada, de emprego total, é uma utopia. Além de outras, a começar pelo potencial de emprego esperado dos megaprojectos.

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O Expresso Economia de ontem faz referência a um estudo do IZA, um instituto alemão especializado na área do mercado de trabalho, da autoria de Anabela Carneiro, Paulo Guimarães e Pedro Portugal, que concluíram que, "para quem está a trabalhar, cada ponto percentual de agravamento da taxa de desemprego rouba 1,4% aos salários reais das mulheres e 1,1% dos dos homens. Embora legalmente não possa haver corte de salários nominais, as empresas conseguem travar os custos em termos reais através de congelamentos ou actualizações abaixo da taxa de inflação. Mais afectados são os novos contratos, onde cada ponto percentual de desemprego a mais representa um corte de salário real de 2,8%, se for homem, ou de 2,3% se for mulher..."

Trata-se do ajustamento a longo prazo, referido por VBento em "Perceber a crise...", mais penoso e mais injusto que o corte súbito generalizado.

A OCDE revelou esta semana, refere ainda o Expresso, que o desemprego pode atingir 11,2% em 2010, o que, aplicando as conclusões do estudo do IZA, poderá implicar um corte de 10% nos salários reais dos novos contratos, se forem homens os contratados; se forem mulheres a redução seria de 8%. Para quem está a trabalhar, os cortes são na ordem dos 4% e 5%. De tudo resultará, se nada for feito que contrarie tendência, a contínua degradação dos sectores transaccionáveis, que, a médio prazo, se propagará aos não transaccionáveis.

Olivier Blanchard, que citei no Aliás pela primeira vez aqui , já sugeriu por diversas vezes que a solução para o desemprego português passava por uma redução de 20% dos salários nominais. Seria uma calamidade, claro, mas que, de outro modo, se terá de ingerir durante vários anos.

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