A moça teria uns quinze, dezasseis anos, provavelmente o 10º. ano de escolaridade.
Atendia num posto de venda do mercado municipal, um desses locais onde as vendedeiras, geralmente analfabetas, costumavam calcular com tanta rapidez e precisão que deslumbrariam qualquer computador, se naqueles tempos eles já tivessem sido inventados.
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Comprámos cinco artigos, e pedimos a conta. A jovem puxa de um papel e escreve, em coluna para somar, 2,00+ 2,00+1,90+ ... aqui, pegou de uma calculadora, multiplicou 5*1,70 e juntou 8,50. Seguidamente começou a somar pelos de dedos e, com algum custo, totalizou 11,40 euros.
Faltaram-lhe dedos, observámos.
E ela respondeu: sabe, não é a minha área.
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Este, como se sabe, está muito longe de ser um caso isolado, é mesmo um caso típico entre a juventude de hoje. Há tempos, contei aqui no Aliás uma história idêntica tendo como protagonista uma jovem licenciada em Farmácia.
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Dir-se-á que a culpa é da escola. É em parte, mas não totalmente. Se os empregadores fossem minimamente exigentes teriam cuidado de verificar se quem admitem sabe, pelo menos, somar, subtrair, multiplicar e dividir e se, de um relance, se apercebem que 8,5+2+2 nunca poderá ser menor que 12.
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Se o fizessem, a história seria outra.
3 comments:
Também já passei por algo semelhante.
O que me preocupa é que estes casos denotam uma falta de 'ginástica' mental que afecta não só calculos simples mas, o entendimento e resolução de qualquer situação problemática com um minimo de complexidade.
O cerebro também se exercita e essa é uma area que tem sido muito descuidada.
Lembro-me da assistência que tive que dar aos meus filhos nos trabalhos de casa e como tive que complementar o trabalho da escola, sobretudo na primária.
Contas eram feitas pelos dedos (multiplicação substituída por somas), aprensizagem da tabuada estava obsoleta e o primeiro capitulo do livro de matemática do 8º ano era sobre o funcionamento da máquina de calcular. Eram os novos métodos de ensino, diziam-me...
E, depois, os professores do ciclo preparatório queixavam-se que os alunos lhes chegavam sem saber fazer contas ou ler.
É verdade que o modismo que se instalou de que obrigar o aluno a decorar era burrice deu no que deu.
Mas eu continuo a pensar, ainda que não veja quem alinhe nesta ideia, de que os grandes responsáveis são os empregadores, a começar pelo Estado.
Se não há exigência por parte de quem admite como é que se podem motivar as pessoas a aprenderem?
As pessoas respondem a incentivos.
Se não há exigência, há desistência.
O problema é que os empregadores também frequentaram as mesmas escolas e para fazer exigências é necessário saber o que exigir...
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