O Presidente da República condenou hoje, durante do discurso do 10 de Junho, aqueles que se abstiveram de votar para as eleições europeias. Portanto, também me condenou a mim. Inconsequentemente.
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Poucos se decidirão a votar em próximos actos eleitorais em resposta a apelos do Presidente; muito poucos alterarão as suas motivações para votar em consequência desta condenação de hoje.
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As pessoas abstêm-se, fundamentalmente, por uma das seguintes razões:
1 - Impossibilidade física de o fazer;
2 - Alheamento total relativamente às questões políticas, incluindo o voto;
3 - Protesto contra o partido em que sempre votam, quando votam;
4 - Protesto contra todos os partidos concorrentes com possibilidades de elegerem representantes;
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Daqui decorre que a abstenção é geralmente um acto conscientemente assumido, e portanto insusceptível de ser demovido com discursos presidenciais, ou decorre de deficiente informação cívica que os discursos presidenciais não podem suprir. Mas, inquestionavelmente, apesar da relativa ineficácia do acto, o PR cumpre aquilo que é tradição e boa intenção.
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Eu, pela primeira vez, não votei porque me revoltou a unanimidade partidária e a celeridade merecidas por um diploma (entretanto vetado pelo PR) que permitia escancarar ainda mais as portas à corrupção dos políticos. E voltaria a abster-me após ouvir ou ler as declarações dos partidos comentando o veto do PR.
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Paulo Rangel, o grande vencedor de Domingo passado, afirmou, segundo Público de hoje que "só votou a favor para garantir um consenso unânime, positivo numa lei deste tipo." Quando aguardamos ainda que os senhores deputados consigam uma maioria de dois terços, possível com um consenso entre PS e PSD, para a eleição do Provedor de Justiça, que se arrasta há dez meses, só podemos ler naquilo que Rangel disse cinismo ou falta de carácter.
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Nestas eleições, eu teria votado em António José Seguro, se ele fosse candidato. Não foi, não votei. E não voltarei a votar enquanto os partidos com assento parlamentar continuarem a fazer tábua rasa da dignidade que os cargos para os quais os elegemos exigem. Não exijo dos candidatos uma pureza de intenções e processos inabalável, mas exijo-lhes, para merecerem o meu voto, civismo e carácter proporcional ao que o PR apela ao cidadão eleitor.
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