"A Europa vive uma espécie de tentação para o suicídio", afirma Bernard-Henry Lévy, BHL, numa entrevista publicada no Semanário Expresso, há dias.
BHL "o intelectual francês que mais anticorpos gera no mundo das letras está perto do desespero perante a escalada dos extremismos, que vê (também) como um falhanço pessoal" ... "Percorre ( ) os perigos de uma segunda presidência de Donald Trump nos Estados Unidos, a guerra em Gaza e na Ucrânia, e a escalada dos populismos na Europa, perante a qual BHL se revela humilde e admite que outros intelectuais como ele falharam ao não conseguir convencer as pessoas que não há soluções nos extremos. A civilização (ocidental), diz, não é mais que uma "fina película" sobre um abismo de ignorância".
Esta entrevista, que considero muito bem conduzida, expõe com suficiente clareza as posições mais polémicas de BHL com as quais muitos concordam e, talvez, outros tantos discordam, mas, parece-me inquestionável que, passadas apenas oito décadas após o fim da Segunda Grande Guerra, a grande maioria dos povos de cultura ocidental, que não viveu em sociedades oprimidas pelos extremismos que vingaram entre os dois maiores conflitos mundiais, só dará pela falta dos valores democráticos quando a democracia for derrubada e os extremismos impuserem as suas regras autocráticas.
Só então, perdido o que antes tinha considerado como adquirido, a democracia renascerá movida pela vontade inabalável da espécie humana de assumir a sua condição de ser racional, não necessariamente obediente ao diktat de qualquer ditador e seus sequazes.
Entre a ignorância daqueles que não viveram a ausência da liberdade de expressão do pensamento e as consequências dessa ausência de vivência, há (resume BHL) uma "fina película" que designamos como civilização ocidental ameaçada de ruptura pelos extremismos outra vez em ascensão.
E, aqueles, incluindo-se BHL, que, pela sua condição intelectual ou outra, deveriam evidenciar que não há soluções nos extremismos dignas da condição humana, falharam ou estão em vias de falhar, assistindo impotentes à caminhada do Ocidente para uma reposição da hecatombe sofrida no século passado, desta vez em versão provavelmente muito mais devastadora. Até que ponto? Ninguém saberá.
Escrevo isto e recordo alguém dizer, invocando, se bem me recordo, a sabedoria chinesa, que "se não podes vencer os teus inimigos junta-te a eles".
Haverá listas de inscrição ou emblemas para colocar na lapela que identifiquem, claramente, quem se passa para o outro lado, não vá o inimigo, sem querer, eliminar quem, por amor à vida, acaba com a cabeça cortada?
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