Sunday, June 16, 2024

O MAL AMADO E O BEM AMADO

Há uma semana, logo que foram conhecidos os resultados das eleições para o Parlamento Europeu, o resultado mais inquietante, ainda que não de todo inesperado, foi observado em França com a vitória Marine de Le Pen, 31,3%, mais do dobro do alcançado por Macron, 14,6%.
Macron decidiu, sem demora, dissolver o Parlamento francês (Assemblée Nationale) e convocar eleições para 30 de Junho e a segunda volta para 7 de Julho.
Um terramoto político em França com réplicas ainda não avaliáveis, na União Europeia e no Mundo.
Definitivamente Macron é um mal amado. Porquê?
 
Pelo que é possível retirar, sobre esta questão, as opiniões referidas nos media, via net, o desamor dos franceses por Macron é consequência do seu estilo visto como altivo, arrogante, distante, que não sustenta a sua permanência no poder com uma presença intencionalmente popular junto dos seus compatriotas.
Sendo o sistema semi-presidencial francês de pendor presidencialista, as adversidades resultantes das circunstâncias inerentes a um cargo executivo são imputáveis ao presidente, ao contrário, por exemplo, em Portugal, onde o semi-presidencialismo é de pendor parlamentar e os eleitores avaliam as decisões tomadas pelo governo e os afectos ou os desacertos, agora inconsequentes, do presidente.
 
Macron enfrentou durante este seu segundo mandato as consequências de medidas que os franceses detestaram: nomeadamente as alterações à lei das reformas (pensões), o aumento dos impostos sobre os aumentos dos combustíveis, as restrições impostas pelo covid.19.
Francês, em geral, não admite que lhe mexam nos "direitos adquiridos", encareçam os combustíveis, ainda que façam trinta por uma linha para combater as "alterações climáticas" em grande medida resultantes do aumento do consumo dos combustíveis fósseis. 

Entretanto, Marine Le Pen refreou os seus impulsos racistas e xenófobos, colocou na presidência do partido Jordan Bardella, 28 anos de idade, capaz de prometer aos franceses este mundo e o outro num embrulho onde as inclinações ultra-direitistas de anti-emigração, de nacionalismo exacerbado, de crítica sistemática às instituições europeias, prosseguem a ideologia nuclear do fundador, Jean-Marie Le Pen, que ela expulsou do partido por manifestamente a incomodar o pai dizer o que ela prefere esconder, nomeadamente o anti-semitismo, a negação do holocausto.

Curiosamente, um plumitivo da nossa praça, Miguel Sousa Tavares (MST) que deve o palco e espaço nos media ao nome da família, escrevia há dias "apoiar a Ucrânia é uma coisa; ir para a guerra da Ucrânia é coisa diferente. Não consigo deixar de ver nas retumbantes derrotas de Macron em França e de Scholz na Alemanha — ambos com 15% dos votos e ambos outrora os maiores defensores de uma solução de paz e hoje dos maiores belicistas — uma rejeição do seu aventureirismo. Se não foi isso, foi o quê?"
 
Nunca tinha ouvido tal dislate.
Mas MST é coerente. Desde o momento, já distante, em que se soube que Putin tinha decidido invadir a Ucrânia, MST considerava essa hipótese, logo concretizada, como um delírio, sem sentido dos europeus. da União Europeia.
E, repetidamente, tem vindo a usar a página dupla do semanário onde escreve, para afirmar que não apoia Putin mas a defesa da Ucrânia deve ser deixada ao cuidado dos ucranianos. 
Não é caso único.
A União Europeia está a ser permanente perfurada por muitos carunchos destes, que, enquanto se alimentam dela, insaciavelmente a debilitam.
 
Escreve ainda na mesma página este caruncho anti-pró-Putin: "...a propósito das comemorações. a 6 de Junho, (desembarque na Normandia) foi um pouco ridículo ver o pequeno Macron empertigar-se à altura do grande De Gaulle, Biden no papel de Roosevelt, e Sunak, que só não ensaiou o de Churchill porque o deixou para Zelensky."
Curiosamente, Rishi Sunak, o primeiro-ministro do Reino Unido, o presidente da França, Emmanuel Macron, o chanceler alemão, Olaf Scholz,, o presidente da Rússia, Vladimir Putin, e o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky,  apesar das muitas diferenças, todos têm 1,70 m de altura,
 
De Gaulle era alto, 1,96 m., mas não foi grande. Quando as tropas nazis entraram em França, De Gaulle atravessou a mancha para pedir a Churchill abrigo no Reino Unido. Churchill aceitou-o mas o refugiado  general francês nunca lhe mereceu grande respeito. 
Macron, ainda que agora impopular, já garantiu que não se demite se as eleições legislativas antecipadas atribuírem à extrema direita, com a complacência da extrema esquerda a oportunidade de, pela primeira vez, se apoderar do governo numa situação de co-habitação com o Presidente.
 
Quanto à depreciativa comparação de Zelensky com Churchill e de Biden com Roosevelt, MST ignora que Churchill instou, sem resultados junto de Roosevelt o apoio dos EUA à Europa ocupada pelos nazis, excepto o Reino Unido onde o leão britânico prometia ao seu povo apenas sangue suor e lágrimas.
Roosevelt convenceu os norte-americanos a entrarem na guerra porque os japoneses, ao atacarem Pearl Harbour, tornaram inevitável a intervenção norte-americana na guerra.
 
Zelensky não tem tentado menos obter o apoio dos norte-americanos e dos europeus que não apoiam Putin que Churchill tentou junto de Roosevelt. 
E Biden, sem qualquer provocação externa, tem apoiado a Ucrânia tanto quanto as possibilidades do seu cargo permitem, independentemente da ameaça explícita de Trump, seu adversário em Novembro, apoiar Putin. 

Se Trump for em Novembro o bem amado dos norte-americanos, adeus Ucrânia!, adeus Europa livre!, ainda que MST, e outros carunchos nos queiram convencer o contrário.

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