Friday, February 29, 2008

MUDAR SIM, MAS DEVAGAR

Hoje, à noite, o senhor juiz desembargador Rangel estava a ser entrevistado na Sic Notícias a propósito de um conclave de juízes, se bem percebi, realizado para discutir o projecto de um novo mapa judiciário. À pergunta da pivot de serviço se concordava com a generalidade do documento, o juiz desembargador não disse que sim nem que não, concorda com a reforma do sistema, que já vem do tempo do senhor Mouzinho da Silveira, na primeira metade do sec XIX, mas alerta para as perturbações e perdas que uma reforma apressada pode ocasionar.
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As preocupações do senhor juiz desembargador são genuínas e generalizadas. Genuínas, porque ninguém de bom senso se atreverá a dizer o contrário, generalizadas porque toda a gente diz o mesmo.
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E aqui temos, repetida à exaustão, a bondade da aversão à mudança: Toda a gente a aceita, desde que nada se parta na operação. O que é, lamentavelmente, impossível. Não há mudança sem mudança de posições relativas dos intervenientes e, portanto, sem conflitualidade de interesses. O que não invalida que não deva a mudança ser pensada e programada de modo a reduzir os custos e a maximizar os proveitos. Mas é impossível realizar uma mudança sem custos. A simples mudança de uma jarra de um sítio na mesa para outro ao lado implica da parte de quem a realiza o esforço da a mudar e o risco de a partir na operação.
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O senhor juiz desembargador Rangel terá toda a razão mas subjacente a essa razão de senso comum encosta-se frequentemente a aversão às mudanças e o interesse mal disfarçado em as adiar para as calendas gregas. Acontece o mesmo na Saúde, na Educação, na Defesa.
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Só não está a acontecer no combate à corrupção, por razões que geralmente toda a gente já percebeu: Quem pode mudar, geralmente não está para aí virado.

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