A expressão é do primeiro ministro e foi por ele usada durante o recente debate na AR sobre o estado da nação. Passos Coelho, a propósito de uma intervenção do líder do BE, ironizou com a "Teoria Louçã": "estou falido e não tenho como pagar, mas tenho um amigo que tem crédito que eu não tenho. E digo-lhe para ele ir pedir um empréstimo, pagar os juros que eu depois quando tiver dinheiro pago-lhe, mas não os juros". (cit aqui). A ironia primária do PM foi, esperadamente, aplaudida entusiasticamente pelas bancadas que apoiam o governo.
Louçã, que abafa muito dos seus discursos mais válidos quando os embrulha na opacidade da demagogia, tinha, na sequência do julgamento de inconstitucionalidade dos cortes e pensões da função pública e das pensões dos regime geral da segurança social (pensionistas do sector privado), apontado para outras alternativas de redução défice e, nomeadamente, os juros agiotas da dívida pública.
Louçã não disse, no entanto, como é que podem ser evitados os juros que representam, de longe, a fatia maior da despesa do estado. Renunciamos à dívida e, consequentemente, aos juros? Ou solicitamos renegociações, com as diferentes mas inevitáveis consequências que qualquer destas opções implica? Louçã, se pretende ser levado a sério, não pode ficar-se pelo enunciado de propostas sem lhes pesar os efeitos. Nem pode o seu discurso ser um conglomerado de tiradas que não tecem uma estratégia coerente de interesse público, para além dos interesses políticos próprios do bloco que lidera condicionados por uma ideologia radical.
Mas a ironia fácil de Passos Coelho, neste caso, não foi menos demagógica que a de Louçã. Porque o PM sabe bem que i) Portugal não pode pagar a carga da dívida e dos juros se não houver renegociação que aligeire significativamente essa carga; ii) que essa situação foi em grande medida fomentada pelos banqueiros credores que, ao privilegiarem os lucros e os bónus a curto prazo, esconderam os riscos; iii) que a situação engendrada está a penalizar fortemente os membros mais fragilizados e a beneficiar escandalosamente os outros, dentro de uma união que provadamente deixou de o ser; iv) que o sistema que permitiu o descalabro continua praticamente intocado e os seus mentores confortavelmente incólumes; v) que a UE não tem viabilidade de continuidade dentro dos parâmetros em vigor.
Passos Coelho sabe, não é crível que não saiba, que "Insanity is doing the same thing over and over again, expecting different results" - Albert Einstein. O seu antecessor, pelos vistos não sabia. Esperava-se que Passos Coelho tivesse aprendido.
Passos Coelho sabe, não é crível que não saiba, que "Insanity is doing the same thing over and over again, expecting different results" - Albert Einstein. O seu antecessor, pelos vistos não sabia. Esperava-se que Passos Coelho tivesse aprendido.
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