Tuesday, July 03, 2012

OS BANQUEIROS E AS MÁSCARAS

Os maiores accionistas do BCP (que insiste sem sucesso em querer que o tratem por Millennium) aprovaram recentemente um aumento de capital de 500 milhões de euros, tomado firme pelo Estado, e um empréstimo da troica, intermediado pelo Estado, de 3 mil milhões. É provável mas não é certo que o Estado venha a ser desvinculado da intermediação deste empréstimo se, e quando, vierem a ser aprovadas as decisões tomadas na última cimeira da UE. Ontem soube-se que finlandeses e holandeses estarão dispostos a bloquear esse caminho correcto.

No Expresso de sábado passado, o BCP comprou as páginas 2 e 3 do caderno principal para colocar na primeira Mourinho e na segunda um texto que começa e termina por proclamar "Vamos ultrapassar a derrota, como sempre fizemos ... Acreditamos em Portugal".

Trata-se, a todos os títulos, de uma mensagem onde subliminarmente o publicitário esconde uma derrota clamorosa decorrente de erros, traições, mentiras, ocultações, com que vários banqueiros teceram a corda com que enforcaram o banco, confundindo-a na percepção do leitor do jornal com as peripécias futebolistícas inevitavelmente entremeadas de vitórias e derrotas.
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O novo presidente do BCP poderia neste anúncio ser o promitente de intenção de resgaste da imagem de um banco que foi um sucesso atraiçoado. Poderia nesta campanha publicitária assumir o compromisso público que delega em Mourinho. Poderia dar a cara, mas não deu.

Por razões de desonestidade mental que de tão banalizadas já não percrepcionáveis pela opinião pública, os banqueiros escondem-se e pagam principescamente por máscaras que nem são responsáveis nem imputáveis em caso de fracasso. 

Figo e Catarina Furtado, entre outros, foram máscaras dos vigaristas (quem souber de qualificativo mais adequado, avise-me se faz favor) que se governaram no BPN, várias figuras públicas deram o nome e a prosa à promoção da imagem de outro buraco que o Banco de Portugal não viu, chamado Banco Privado Português. Pagos por um serviço que atraiçoou alguns depositantes desprevenidos e os contribuintes portugueses em geral, que responsabilidades lhe cabem na participação de construção destes logros? Nenhumas. 

O actual presidente do BCP pode ser um homem honesto e competente. Mas, como a outra, não basta ser mas também parecer. Para já parece tão desonesto quanto alguns dos outros que o precederam.

5 comments:

Pinho Cardão said...

Oh Rui, desculpa lá, mas desta vez a coisa não saiu nada certa.
Deixo o subjectivo e apenas refiro um facto, objectivo: a Campanha do Mourinho já existia muito antes de o actual Presidente da Comissão Executiva sequer sonhar que era convidado para o BCP. Assim, o que concluis não é verdadeiro. Para além de que nunca poderias concluir o que concluiste a partir dos factos que apontas.

rui fonseca said...

Caríssimo António,

Fico feliz sempre que aqui apareces.
Como bem sabes, escrevo para entreter a viagem e ir aprendendo alguma coisa, se possível.
O contraditório, que raramente aparece por aqui, é sempre uma boa ajuda.

Posto isto, vamos ao tema: "A campanha do Mourinho já existia..."

Mas é essa a principal razão para ter escrito o que escrevi.

O novo presidente se queria, e deveria querer, mostrar que alguma coisa vai mudar, deveria começar por dar a cara e deitar de lado as máscaras que outros antes dele usaram.

Um banco não vende detergentes, que em tempos idos se promoviam com testemunhos de actores de meia tijela e alguiares de plástico. Um banco vende confiança, se a tiver para venda. Tudo o resto é acessório e muitas vezes utilização abusiva de um estauto privilegiado.

Quem é o portador da confiança? A sua administração a começar no presidente.

Que, no caso do BCP, não é o Mourinho. Salvo erro.

Pinho Cardão said...

Caro Rui:
A ideia da máscara deu um post criativo. Mas tão criativo que nada tem a ver com o real. Não há máscara nenhuma. Sabes bem.

rui fonseca said...

Não há máscara, António?

Como não há máscara se nos deparamos com um rosto que assegura um propósito a que ele é completamente alheio? O que pretendem os bancos quando avançam com caras que não são caras dos bancos para os representar? Uma máscara não é senão um rosto que o
declamador coloca à sua frente.

Quando Figo deu a cara pelo BPN e induziu muita gente a tornar-se cliente de um alçapão, que responsabilidade lhe pode ser assacada? Nenhuma porque não foi ele foi a máscara dele que colaborou no histórico roubo (aceito designação mais adequada, se houver)aos contribuintes portugueses.

ajacf said...

Rui,
Desta vez vou comentar!
O outro, ainda estudou em Coimbra e tirou um curso superior de 4 anos em Contrução Civil no ensino público, este é bem pior, será que o actual primeiro terá um curso idêntico?