Friday, July 27, 2012

A ECONOMIA DA ILUSÃO




À saída vila, uma casa que pela traça se adivinha ser pelo menos duplamente centenária e onde habitaram os donos de grandes extensões de terras fertéis nas redondezas. Por detrás da casa, adiantada até à rua, um jardim cuidado. Para lá do jardim, um parque, separado do resto da propriedade, relvado e pontuado com arbustos e canteiros de flores. Ao fundo do parque, uma construção recente, de aço e vidro, sobre uma base de betão armado. Para que fins terá sido plantado ali aquele edifício  que se destaca pelo contraste ao largo de uma vila com memória antiga?

É um centro de eventos. Principais fins: casamentos. 
Num país onde o número de casamentos anuais decresce e já é ultrapassado pelos divórcios no mesmo período, a indústria de eventos vai de vento em popa. 

Vai mesmo? 
Não temos razão de queixa, diz-nos o administrador, que nos surpreendeu quando sacávamos uma fotografia. Oferecemos um serviço diferente, de altíssima qualidade, que surpreende todos quantos são convidados a vir aqui. Por exemplo: Os noivos podem chegar de helicópetero. Se quiserem, evidentemente. Aterram ali, está a ver?

Vivemos acima das nossas possibilidades, ouve-se repetido vezes sem conta.
Vivemos ao lado das nossas possibilidades. Esgotamos os nossos escassos recursos colectivos numa economia de ilusão que vai desde as autoestradas do lá vai um, das casas desabitadas, dos estádios sem espectadores, até à pompa e circunstância de rituais decadentes.

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