Há cerca de um ano, antes da formação do actual governo, apontei neste bloco de apontamentos, na sequência de outros no mesmo sentido, que a situação excepcionalmente crítica do país impunha que o novo governo dispusesse do mais amplo ampoio possível na Assembleia da República, e que o vencedor das eleições não deveria deixar de fora nenhum dos subscritores do acordo de ajuda externa. Não o entendeu o novo presidente do executivo e o PS, que apoiou o governo anterior, grandemente (mas não único) responsável pela situação de bancarrota, ficou confortavelmente de fora.
Anotei ainda que um governo PSD/CDS não ultrapassaria o meio do período da legislatura e que só um governo dos partidos do arco governamental teria, eventualmente, condições de suporte político bastante para suportar os ventos ciclónicos que os efeitos da crise iriam soprar. Um ano depois da tomada de posse do actual executivo as probabilidades desta previsão quase óbvia redobraram.
Como se não bastassem as múltiplas contestações sociais, para as quais o PS olha de lado e assobia para o ar, a vulnerabilidade exposta do pivot político do executivo está a acelerar um processo de desgaste rápido que era previsível desde a primeira hora. De dentro e fora do partido os sintomas de inquietação e discordância são em cada dia que passa mais notórios. Anteontem foi o vice-presidente do PSD da distrital do Porto a sugerir a saída de Miguel Relvas (sugestão que entretanto já mereceu a reprimenda pública do presidente da Câmara de Gaia), ontem Bagão Félix afirmou que, se fosse o seu caso, já teria pedido a demissão para facilitar a tarefa do primeiro ministro, hoje ouço na rádio que Paulo Portas criticou implicitamente Passos Coelho afirmando que nenhum membro do governo deveria entrar em polémicas (com o presidente do Tribunal Constitucional).
A braços com projecções do défice que se afastam flagrantemente dos objectivos orçamentados e dos compromissos assumidos, com o crescimento do desemprego para além das estimitativas mais pessimistas, com a deterioração da situação económica, onde só a balança comercial trouxe boas notícias, com a decisão do TC a complicar-lhe a vida (ou a simplificar-lha, no entender de alguns), o governo entra numa fase crítica antes do impacto pleno dos cortes salariais nas contas dos portugueses atingidos pelas medidas de austeridade. A acrescentar a tudo isto, que é muito, os sintomas de desintonia entre os parceiros do governo são cada vez mais evidentes. Só assim se explica a crítica pública de Portas a Passos Coelho.
O primeiro ministro convidou, durante o comunicado à AR do estado da nação, o PS a juntar-se ao governo na preparação do OE para 2013. Sugeriu, deste modo, um convite ao PS para entrar num governo ampliado?
Não creio.
Não creio, mas creio que deveria fazê-lo.
No comments:
Post a Comment