Monday, July 16, 2012

UM ESCÂNDALO GLOBAL

O Expresso calculava na sua edição de anteontem que o "JP Morgan perdeu cinco pontes Vasco da Gama a negociar derivados" . A ponte Vasco da Gama é, sem dúvida uma boa unidade de medida mas não é a melhor em avaliações de burlas, roubos, e outras trafulhices financeiras em geral. Mais adequado será avaliar o rombo no JP Morgan usando como termo de comparação a maior vigarice financeira em Portugal que se chamou banco português de negócios.

Comparado com o bpn, as perdas do JP Morgan com negócios de derivados de crédito no segundo trimestre de 2012 (equivalentes a 3,61 mil milhões de euros) equivalem-se a sensivelmente metade dos desfalques, ainda em progressão, engendrados pelos inteligentes do bpn. Uma ninharia, portanto, se considerarmos que o JP Morgan é um dos maiores bancos do mundo e o bpn um ninho de ratos. Ainda, segundo as contas do Expresso, estas perdas do JP Morgan equivalem-se a metade do défice público de Portrugal em 2012, os ratos do bpn, se algum dia as contas estiverem feitas, tiraram-nos dos bolsos um valor equivalente à totalidade do défice deste ano.

E, no entanto, nem as dimensões deste roubo público nem a incompetência da justiça para julgar os culpados mobilizam o protesto social que um escândalo destas dimensões deveria atingir se houvesse consciência cívica colectiva do que está em causa.

Noutro aspecto crítico desta questão são comparáveis os casos do JP Morgan e do bpn e, de um modo geral, todo o sistema financeiro mundial: o benefício do infractor, moral hazard no jargão anglo saxónico. Que significa que os banqueiros estão autorizados a jogar com o dinheiro dos depositantes nas mais diversas operações, embolsando lucros e bónus, além de outras vantagens gordas, mandando pagar a conta aos contribuintes quando as jogadas que fazem dão para o torto.

Escandalizam-se os banqueiros com a designação metafórica de banca de casino para este tipo de operações mas quem tem boas razões para se indignar são os clientes e os donos dos casinos . No casino, as jogadas são visíveis, os resultados evidentes, as perdas ou os lucros são da conta exclusiva de quem joga e do casino onde joga. Na banca de casino nem as jogadas são visíveis, nem os resultados evidentes, e os jogadores ganham sempre enquanto não perdem os contribuintes.

Um escândalo global a que ninguém põe cobro.

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