O magno problema da União Europeia é não haver cidadãos europeus sessenta anos depois do lançamento da primeira pedra de um edifício que começou por ser construído para garantir a paz na Europa.
Há cidadãos portugueses, espanhóis, italianos, finlandeses, alemães, holandeses, suecos, dinamarqueses, austríacos, checos, britânicos, gregos, belgas, cipriotas, búlgaros, letões, estonianos, franceses, lituanos, luxemburgueses, malteses, polacos, romenos, eslovacos, eslovenos, húngros, eslovacos, mas não há cidadãos europeus.
As discussões acerca da sobrevivência da zona euro e da continuidade da União Europeia centram-se e definham-se no imbróglio das dívidas criado pela aranha banqueira que teceu uma teia onde cairam alguns mais desprevenidos. Não há discussão política acerca do futuro europeu mas das dívidas insuportáveis em que alguns se deixaram enrolar e agora são intimados a desenrolar em prazos mínimos.
Assim, não haverá nunca cidadãos europeus. Wolfgang Münchau, no artigo publicado ontem no FT que resumi e comentei aqui prevê que a crise se arraste por vinte anos, na melhor das hipóteses. Na pior, o edifício desaba de um momento para o outro ou decidirão desmontá-lo antes que se desmorone. Exagero dele?
Não creio. A Europa, sem cidadãos europeus, está num processo de desmembramento que fará dela um conjunto desagregado num mundo dominado por dois ou três gigantes. A União Europeia dissolver-se-á porque, enquanto Portugal, a Grécia, a Espanha e a Itália pagam juros insuportáveis, a Alemanha e a França financiam-se a taxas negativas. Da razão primeira da sua construção - garantir a paz na Europa - ninguém fala. Talvez porque, inconscientemente, a tenham como indiscutivelmente garantida.
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