Thursday, July 05, 2012

CHAMEM A LUSÓFONA

Ontem comentei aqui as alternativas de A J Seguro, publicadas aqui, nomeadamente o prolongamento do período de ajustamento por pelo menos mais um ano, mantendo-se o cumprimento dos compromissos quanto ao défice, sem medidas de austeridade adicionais. Hoje, Miguel Frasquilho, vice-presidente da bancada parlamentar do PSD, defende que Troica deveria dar mais dois anos para fazer ajustamento, sem os quais são inevitáveis mais medidas de austeridade. Hoje ainda, é notícia que Constâncio diz que Portugal tem todas as condições para cumprir o programa da Troica.

Curiosamente, e como seria der esperar, Frasquilho cola-se a Seguro (ou vice-versa), divergindo dele apenas na activação da iniciativa: Seguro quer, naturalmente, que seja o governo português a a solicitar à Troica a prorrogação do prazo de ajustamento; Frasquilho defende que deverá ser a Troica a reconhecer o bom comportamento dos portugueses e  a tomar a iniciativa de os brindar com mais tempo para arrumarem a casa. Se a Troica fizer vista grossa e mantiver os prazos, não teremos alternativa senão ajoujar com mais austeridade, segundo Frasquilho.

É no meio desta tocante cena convergente que o atento, desatento, conforme as circunstâncias, Constâncio emerge da penumbra dourada a que o alcandoraram para sentenciar de forma redonda: As conclusões [da troika] foram de que o programa estava a ser implementado. Foram identificados alguns riscos, mas a conclusão é positiva”,..., agora, é preciso “esperar e ver como a economia irá comportar-se num futuro próximo”. ..estão reunidas todas as condições para que Portugal cumpra o programa”, salientando que este é um objectivo “muito importante”. Até porque, , Portugal não pode “estragar” a imagem de “bom aluno” que criou junto das autoridades internacionais e dos mercados. “O país é visto como estando na direcção certa e esse deve continuar a ser o caso”.
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Segundo a UTAO (Unida Técnica de Apoio Orçamental) em nota publicada aqui hoje, os números das contas nacionais para o primeiro trimestre significam que será necessária «uma significativa recuperação» nas receitas fiscais para cumprir a meta para o défice público, ...... Nas contas trimestrais do Instituto Nacional de Estatística, o défice orçamental para o primeiro trimestre atingiu 7,9 por cento do Produto Interno Bruto (PIB) -- um défice «superior em 3,4 pontos percentuais do PIB face ao objetivo de 4,5 por cento previsto para o ano de 2012 ... Este défice, aliás, ficou 0,5 pontos percentuais acima da estimativa da própria UTAO, elaborada com base na execução orçamental até maio. A diferença deve-se à “receita cobrada líquida do IVA”, cuja evolução registou uma quebra de 2,8 por cento, superior ao que a UTAO esperava... ainda não foram sentidos os efeitos dos cortes aos subsídios de Natal e férias nem de “outras medidas de consolidação orçamental” de menor dimensão. ...Mesmo assim, “a atuação dos estabilizadores automáticos” (a redução dos impostos pagos e o aumento das prestações sociais em tempo de crise) poderá vir a “comprometer” o objetivo para o défice....“Caso no próximo trimestre a quebra das receitas de impostos indiretos e de contribuições sociais não evidencie uma significativa recuperação”, , “dificilmente o sucesso das medidas discricionárias de consolidação poderá assegurar o cumprimento da meta orçamental prevista para este ano”. ... Segundo os dados divulgados na semana passada pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), o valor nominal do défice das Administrações Públicas em contabilidade nacional - a ótica que conta para Bruxelas - atingiu os 3.217 milhões de euros, valor que compara com os 3.097 milhões de euros registados no final do primeiro trimestre do ano passado..."

Seguro, Frasquilho, Constâncio: Isto não vos diz nada?
Pelo andar que as coisas levam, se não houver outras ajudas externas, nem dez anos chegam para o bom aluno recuperar.
Aliás, os bons alunos levam tempo a chegar onde querem. Num ano, só mesmo na Lusófona.  

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