Monday, July 09, 2012

UMA CRISE PARA VINTE ANOS

Wolfgang Münchau publica hoje no Financial Times mais um artigo sobre um tema em que se tornou um dos mais citados colunistas: as turbulências na Zona Euro. Em  "Eurozone crisis will last for 20 years", Münchau começa por uma dúvida elementar: Gostaria de saber quem é que arrisca investir em activos financeiros após cada uma dessas declarações "históricas" do Conselho Europeu saídas das suas cimeiras. Às vezes o optimismo dura algumas horas, outras, alguns dias. Acerca da última acabou em menos de uma semana. A Itália e a Espanha estão agora com spreads acima dos níveis atingidos nas vésperas da cimeira. 


(c/p El País de hoje)

Münchau discorda, e tem boas razões para isso, da generalidade dos observadores que consideram que foram dados na última cimeira passos decisivos para a união bancária na Zona Euro, onde foi acordado que não haverá uma recapitalização bancária conjunta enquanto não for concretizada uma total união bancária. E que o Bundesbank se apressou a recordar que uma união bancária total não é possível sem uma união política. Conclui WM: a implicação lógica desta sequência é a impossibilidade da solução da crise em menos de 20 anos.
Continua Münchau: O que sabemos agora é que a Alemanha não aceita a mutualização dos seguros dos depósitos, nem a concessão ao Mecanismo Europeu de Estabilização de capacidade para se financiar. Se a Alemanha não concorda com o mínimo agora como pode alguém pensar que vai concordar com uma união política depois? E irónico, remata: Isto é menos credível que um alcoólico prometer desistir de beber dentro de cinco anos.

Na Alemanha, ainda há uma pequena maioria a favor do euro mas a maioria é contra mais resgates. Um grupo de 160 economistas, liderado por Hans-Werner Sinn, presidente do Ifo, um instituto económico, publicou a semana passada um manifesto contra a união bancária. Merkel respondeu que não havia que recear porque a união bancária não passava de supervisão conjunta dos 25 maiores bancos. E que não haverá garantia global dos depósitos, um entendimento diferente do BCE acerca do que é uma união bancária. Outra vez mordaz, Münchau considera que isto se assemelha à promessa do alcoólico de passar a beber apenas os melhores conhaques a partir de agora.  

A necessária união bancária que se precisa é aquela que a Alemanha recusa: regulação e supervisão centrais, um fundo comum de reestruturação e uma garantia comum dos depósitos. Leva anos a criar. Se for feito de forma conveniente, exige alterações constitucionais dos países membros e dos tratados europeus, mesmo que seja apenas para redefenir o papel do BCE. É uma loucura completa fazer depender a solução da crise do sucesso daquilo que seria o exercício da maior integração da história europeia.  

Com taxas de juro das obrigações a 10 anos acima de 6 por cento, nem a Itália nem a Espanha conseguem manter-se na Zona Euro. A alternativa passa pelas eurobonds ou qualquer outra forma de mutualização das dívidas dos sectores público e privado ou pela compra de obrigações pelo BCE. A Alemanha recusa a primeira, o BCE não aceita a segunda.

Se alguma coisa  não é insustentável nem se corrige a si mesma, restam apenas duas saídas: A primeira, esperar pacientemente que o sistema parta. Esta é a estratégia prosseguida pelo Conselho Europeu e pelos alcoólicos. A segunda, começar os preparativos para a saída evitando que o colapso aconteça durante o período de alterações, que será sempre longo. Foi precisa uma década para criar o euro. Será preciso mais que um longo fim-de-semana para acabar com ele.

A terminar, Münchau recorda que em Novembro escreveu que o Conselho Europeu tinha dez dias para salvar o euro. Se eles tivessem criado as bases para uma união fiscal e bancária, provavelmente estariam agora em condições para concertar uma estratégia efectiva para a solução da crise, consistindo na recapitalização dos bancos e na compra de obrigações. Não o tendo feito deixaram de ter condições para o fazer agora. 

Assim sendo, a última cimeira da zona euro , que não solucionou a crise, ficará certamente "histórica". 

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