Monday, August 08, 2011

UMA QUESTÃO DE CRÉDITO

O Expresso entrevistou um ex-director adjunto do FMI para ouvir dele aquilo  que era mais que esperável que o oráculo ambulante dissesse: Que Portugal tem de sair do euro e quanto mais tarde o fizer pior. (aqui)
Já tinha dito o mesmo relativamente à Grécia (aqui), dirá o mesmo a propósito da Irlanda, da Espanha, da Itália. Há dois anos disse (isto) a propósito dos EUA. Merece crédito?

Há quem lhe dê, há quem não dê. Por exemplo, aqui, João Duque não dá. Eu também não dou. E não dou por algumas razões que Duque aponta, mas também por mais algumas outras. Penso, por outro lado, que a recorrente acusação de incompetência dos actuais líderes europeus, que Duque subscreve, é exagerada. Os líderes são pessoas, e estas, são elas e as suas circunstâncias, segundo o Filósofo. Duque, num excesso niilista de ocasião chega a estender aos europeus as culpas da crise em que a União Europeia se encontra mergulhada. Considerar que todos são culpados é desculpabilizar os principais responsáveis.
E quem são eles?
Os banqueiros. Foram eles que, sem cuidar dos riscos dos créditos concedidos, confiados na rede que os protege de se estatelarem (too big to fail), distribuiram crédito à tripa-forra porque isso lhes inchava os honorários e os bónus.
   
Os banqueiros desculpar-se-ão que acturam dentro do alargados limites que lhes concederam, o que é uma atenuante. Mas é uma atenuante cujas origens já deveriam ter sido removidas e ainda não foram. Até agora, as regras que consentiram o descalabro permanecem praticamente intactas.

Voltando ao ex-director adjunto do FMI, o oráculo não se engana mas quer iludir-nos. Como diz Duque, a saída isolada do euro seria uma desgraça. A nós compete-nos cumprir os compromisso assumidos com a troica e esperar que os grandes culpados sejam chamados a contribuir para a solução do imbróglio em que estamos todos metidos. Nós, e eles. 

Porque eles, os banqueiros, sabem que a crise de que tanto se fala não é propriamente uma crise da União Europeia ou do euro. O euro nos últimos doze meses ganhou cerca de 10% ao dólar e só perde, aliás como todas as moedas relevantes, para o franco suíço. A crise no fundo é uma crise por declarar dos bancos envolvidos. Um default da Grécia, por exemplo, terá consequências tremendas imediatas na teia de créditos entre os bancos europeus, e não só. 

Num aspecto o BCE é notoriamente culpado: O de não ter convocado os bancos e obrigá-los a apresentar uma solução para o problema que criaram. Até agora, todas as medidas tomadas têm-se voltado para os contribuintes. Ora os contribuintes são votantes e os políticos o resultado dos votos. Enquanto não for deslocado o foco para os principais responsáveis as discussões acerca da crise carecem de sentido prático.

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