Tuesday, August 30, 2011

O TOQUE DOS EXTREMOS

Hans-Olaf Henkel foi presidente da IBM na Alemanha e presidente da Federação das Indústrias Alemãs.
Geralmente controverso, muito conhecido e ouvido, Henkel escreve hoje no Financial Times um artigo, que transcrevi aqui, onde defende a saída dos países membros do euro do Norte da Europa, nomeadamente, Alemanha, Holanda,  Áustria, Finlândia, e, eventualmente, a Suécia e o Reino Unido, que não são membros, e a Irlanda, que é membro em situação difícil não porque tenha adoptado uma política de défices excessivos mas porque a banca se portou mal.  

Henkel já se tinha juntado anteriormente a 50 empresários alemães na contestação da constitucionalidade da ajuda alemã à Grécia, ainda que, como ele próprio começa por dizer no começo deste artigo no FT, tenha sido um adepto da criação da moeda única.

Segundo Henkel, separando as águas, Norte para um lado, Sul para o outro, todos ficarão como querem: a Norte, a contenção e o equilíbrio, a moeda forte, a Sul, o défice e as desvalorizações cambiais. Quanto às dividas dos sulistas denominadas em euros, os credores, quaisquer que eles sejam, que encaixem as perdas das desvalorizações  mais que certas do euro à deriva. De qualquer modo, argumenta Henkel, a Grécia e os outros nunca pagarão de modo algum o que devem já hoje.  

Henkel, um neoliberal que defende a globalização e os méritos do Estado mínimo, encontra-se, assim, muito próximo do que defendem, por exemplo, João Ferreira do Amaral e seus admiradores em Portugal. 
Não sei o que pensam os fabricantes alemães, por, exemplo da eventualidade de terem de concorrer com os fabricantes franceses do mesmo ramo quando estes forem apoiados por desvalorizações cambiais.

Nos últimos doze meses, o euro sobrevalorizou-se relativamente ao dólar e à libra, perdeu apenas para o franco suíço por razões que nada têm a ver com a balança comercial helvética. Por outro lado, as moedas dos principais países membros da UE têm flutuado à volta do euro de um modo persistente. Refiro-me à coroa sueca, à coroa dinamarquesa, à coroa norueguesa, ainda que a Noruega não seja membro da UE, mas também ao forint húngaro, à coroa checa, ao zloty polaco. Mesmo as moedas da Ásia (Yen japonês, Yuan chinês), o dólar australiano ou o dólar canadiano, não têm experimentado variações significativas perduráveis ao longo ano, relativamente ao euro.

De que se queixa, então, o engenheiro Henkel? Da insustentabilidade do euro se nele tiverem de coabitar países que têm perspectivas diferentes quanto aos malefícios das desvalorizações cambiais. O mesmo é dizer, penso eu, que, segundo Henkel, a União Europeia tem de acabar.

O João também.

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