Sunday, October 18, 2009

CAIM COITADO

Saramago: "A Bíblia é um manual de maus costumes"
José Saramago afirmou que “a Bíblia é um manual de maus costumes, um catálogo de crueldade e do pior da natureza humana”. Sobre o livro Caim, que é apresentado hoje a nível mundial, o escritor defendeu que “na Igreja Católica não vai causar problemas porque os católicos não lêem a Bíblia". Mas admitiu que poderá gerar reacções entre os judeus
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Saramago decidiu voltar a tresler a Bíblia construindo uma história a que chamou romance, no seu estilo de contar histórias como quem conversa interminavelmente com o leitor, a partir de uma peripécia, divina para os fiéis ao Antigo Testamento. O sacrilégio detonou, como seria de esperar, a repulsa da Conferência Episcopal Portuguesa mas alguma compreensão, também esperável, por parte do Bispo das Forças Armadas e de Segurança, Dom Januário Torgal.
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Os argumentos aduzidos por Saramago em defesa das suas teses, a latere do livro, não são originais nem subtis mas são, por isso mesmo, irrebatíveis se forem discutidas no plano em que o autor se coloca: a do autor ateu, e não agnóstico, que subverte pela razão o que milhões e milhões de crentes aprenderam a recitar sem se interrogarem.
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A leitura de "Caim" de Saramago, que ainda só iniciei mas de que se percebe a intenção desde o princípio, parece-se, mais do que com um romance, com uma anedota sacrílega longa mas bem contada.
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Melhor que a da "Viagem do Elefante".
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5 comments:

aix said...

"Não está nas minhas prioridades a leitura desse livro, porque pela apresentação que aparece na Comunicação Social acho que é de alguém que não entende os géneros literários da bíblia"(Padre Manuel Morujão).Os padres são tramados para encontrar justificações para o irracional."Bíblia" que dizer "o Livro",sendo "sagrada" para os crentes. Assim,só pode ser "género literário" a forma, porque o conteúdo é fé para quem acredita.
Como matéria de fé será
irrefutável, porque a sua justificação é como o argumento do antigo "Tide": contém porque contém mesmo. Afirmando-se como agnóstico e/ou ateu (para o caso é o mesmo)Saramago está no seu direito de "ler" o mito de Caim como bem entender,sem que qualquer crente se sinta ofendido no sua fé.
Daí discordar da tua interpretação do "Caim" como "anedota sacrílega".
Ainda não li o livro mas vou lê-lo como li os anteriores do Saramago.Quanto às reacções pró ou contra só o tempo as "esmiuçará". Lembro que a notável ópera rock "Jesus Christ Super Star" foi criticada inicialmente pelo Vaticano, vindo depois a ser considerada uma bela obra de arte. Mas a Igreja tem o condão de arrepender-se dos erros quando as coisas já não lhe correm de feição.E a confissão absolve enormidades.










a Bíblia é constituida por

Rui Fonseca said...

"Daí discordar da tua interpretação do "Caim" como "anedota sacrílega"."

Caro Francisco,

Obrigado pelo teu contributo.

Eu não contesto a Saramago nem a ninguém o direito de interpretar seja o que for.

O que eu quis dizer, mas não sei se disse, foi que a forma como Saramago conta estas estórias faz-me lembrar aquelas anedotas acerca de temas religiosos, e, por isso sacrílegas do ponto de vista dos fiéis.

Ocorrem-me várias: O caminho por cima das pedras
: o jogo das moedas
: vêem aí os turistas
: simplesmente Maria
: os "cartoon" dinamarqueses

É sacrílego comparar "Caim" de Saramago a uma anedota?

Sacrílego ou não, depende do ponto de vista dos fiéis.

Para mim foi uma questão de sugestão.

António said...

Bom dia.
saramago a interpretar a Biblia e a tecer comentários jocosos.
Uma anedota no seu melhor.Desde que se "ajuntou" com a espanhola está cada dia pior.
Usar a Biblia como meio publicitário para vender uns livritos, para repor as finanças que a espanhola estoura, é do mais rasca que há.
Já faltou mais para o escriba ficar a saber que não anda aqui por sua alta recreação e o dia de prestar contas de vez, não tarda.
Aliás, a forma como ainda aqui anda é já uma penitência. Viver assim, não presta.Está a pagá-las à nossa frente.Vai apelar a Ele no momento do apaganço. Será tarde...
O que vale é que, como alguém já disse referindo-se ao "nóbél", vozes de burro não chegam ao céu.

aix said...

António, não o conheço mas, pelos vistos, temos um Amigo comum, o que me dá a ousadia de discordar profundamente de si em relação ao Saramago:
«Desde que se "ajuntou" com a espanhola está cada dia pior». Pura má língua, sem ética. Não é nenhum crime "ajuntar-se" e, no caso, até trouxe felicidade.
«Usar a Biblia como meio publicitário para vender uns livritos, para repor as finanças que a espanhola estoura, é do mais rasca que há».Penso que este juizo não é nada cristão(que deve ser o seu código)nem suportado pela realidade, pois Saramago não precisa de publicidade para vender.
«Já faltou mais para o escriba ficar a saber que não anda aqui por sua alta recreação e o dia de prestar contas de vez, não tarda».
Primeiro, um prémio nobel não é um escriva (goste-se ou não)e quanto a desejar a morte a alguém por ser um velho...valha-lhe a caridade cristã.

António said...

Caro Aix,
Eu não desejo a morte a ninguém.
É um facto.
Eu até posso ir mais depressa.
E quanto a publicidade, é precisa, é.
Ter ganho um prémio semelhante ao que deram agora ao Obama, não lhe dá o direito de ofender.
Passe bem.