Os resultados das eleições legislativas confirmaram, no essencial, o que se previa há muito: que o PS iria perder a maioria absoluta mas não perderia as eleições, que muitos no PSD não estavam convictos que o seu partido poderia retirar a maioria ao PS quando elegeu MFLeite para líder, que o BE continuaria a sapar as posições do PS à esquerda capitalizando o descontentamento provocado por algumas reformas do Governo, que o PCP a pouco e pouco cederá a posição da esquerda radical ao BE, que o CDS se iria manter na segunda divisão. Apenas o CDS excedeu, mas não transcendeu, as expectativas.
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Agora é muito provável que se volte a um período de governo minoritário, porque as alianças à esquerda parecem impossíveis e à direita pouco recomendáveis para ambas as partes, durante o qual o PS aguardará que o derrubem para se recandidatar à maioria absoluta e candidatar um presidente seu. Durante esse período de meia legislatura, governará em regime de geometria variável, à esquerda ou à direita, segundo as conveniências de cada momento. Elucidam-nos os teóricos da geometria variável que ela é possível porque as reformas estão feitas, leis não faltam, agora é só manter o rumo em frente. Se não houver leis a aprovar não há acordos a negociar.
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Esquecem, ou querem-nos fazer os teóricos da geometria variável, que o poder de uma maioria absoluta é muito mais decisivo na execução das leis do que na sua aprovação. E a prova de que assim é está no facto desse poder de uma maioria absoluta se ter imposto na Assembleia da República durante a legislatura que agora terminou e retrocedeu não poucas vezes vezes perante as pressões corporativas.
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Tomemos dois exemplos: A avaliação dos professores e o Código do Trabalho. Que pode fazer um governo minoritário, alvo das críticas dos radicais de esquerda e o oportunismo político dos outros? Ceder ou meter no congelador.
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A questão complica-se, contudo, quando as dificuldades não se confrontam com os votos dos eleitores porque decorrem de compromissos externos incontornáveis. Perante uma situação de endividamento externo galopante e um crescimento imparável do défice, há medidas que têm de ser tomadas porque não podem ser evitadas nem adiadas. A economia portuguesa confrontra-se com constrangimentos estruturais que só podem ser removidos com políticas que impõem a subordinação dos interesses partidários aos interesses nacionais.
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É neste contexto que o papel do PR pode assumir uma relevância que não deveria ser menosprezada. Ainda que as circunstâncias políticas perspectivem como improváveis quaisquer das coligações possíveis, o PR deveria pressionar o indigitado primeiro-ministro a negociar uma maioria absoluta que pudesse caucionar o seu governo na AR, à esquerda ou à direita. De outro modo, o país viverá em permanente inquietação social e a produtividade económica, que já se arrasta há anos, ficará arrasada, a competitividade ainda mais desgastada, a incerteza ainda mais afugentadora do investimento.
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No caso de as diligências para a constituição de um governo de maioria absoluta não resultarem, o país deveria saber as razões da não comparência dos convocados. Esta, sim, seria uma boa clarificação da vida política portuguesa.
2 comments:
Cavaco errou! E Cavaco errou logo quando deixou passar em claro quando saíram as notícias das escutas. Se não sabia se havia escutas a sua obrigação seria mandar alguém tecnicamente habilitado e fazer, após isso, a confirmação ou desmentido. Ao não o fazer permitiu que se desse asas aos rumores e suspeições. Sobre quem caíam as culpas? Naturalmente sobre o Governo do PS, assim só se pode afirmar que ele não se incomodou com o mal que a situação causasse.
As afirmações dos dirigentes do PS sobre os assessores a participarem no programa do PSD logicamente deveriam ser rebatidas pelos próprios se bem que são ilegítimas.
Não vamos agora aqui criticar os critérios do DN para a publicação, pois não me parece ter visto alguém criticar os critérios da TVI para fazer notícia do cartaz do PS que colocava José Sócrates com olhos azuis, mesmo vários meses depois desse cartaz ter sido efectuado. Ou seja, nem a notícia tinha a ctualidade. O que poderá ser notado seria até o abuso do usufruto da possibilidade de terem via aberta para escreverem tudo e em qualquer altura. Mesmo notícias sem fundamento e passarem depois impunes por tudo isso. Poderíamos até falar da qualidade jornalística de Manuel Moura Guedes a quem o bastonário da OA colocou no devido lugar. Mas voltando ao assunto que aqui me trás devo afirmar que o PR não é isento a críticas. Não foi claro sobre porque demitiu o assessor. Foi porque ele o assessor mentiu? Foi porque FL fez mal em ter falado no nome de Cavaco? Foi porque o PSD se tentou colar ás afirmações de Cavaco no sentido de denegrir Sócrates? Tinha por obrigação de ser específico e claro. Notou-se aliás um na sua voz um claro tom de irritação. Tivesse agido no devido tempo...
Caro Paulo José,
Presumo que este seu comentário não se reporta ao meu apontamento, que aborda uma questão completamente diferente. De qualquer modo agradeço a sua visita.
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