INDIGNAÇÃO E ARREPENDIMENTO

Fiquei indignado a olhar para o mostrengo que estão a levantar ali em cima no "cabeço do outeiro".

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A nossa aldeia não vem nos roteiros turísticos nem é candidata mas tinha, há uns anos atrás, algum carácter. De repente, passamos tão depressa pelo tempo!, a equipa de futsal de uma das três colectividades que, em tempos idos há muito foram de cultura e recreio, alcançou algum sucesso regional e sentiu-se com fôlego para ter um pavilhão próprio. Poderia ter escolhido um sítio menos elevado, onde não se levantasse acima do monte como um mostrengo a espreitar a aldeia em baixo, mas não senhor. Em grande, bem alto e privativo, é que tem de ser. Como os estádios na segunda circular em Lisboa. E os outros que o paguem! Ou há moralidade ou há pavilhões desportivos em cada canto da casa.

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E ninguém reclama? perguntei.

Percebi que ninguém reclama porque ninguém vê, ou não quer ver, aquela coisa como eu vejo.

Acontece-me com alguma frequência. E arrependo-me depois, porque sinto ver na cara dos circunstantes alguma benevolência, quase pena, para com a minha indignação.

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Lá em baixo, diz-me uma pessoa amiga, na casa da renda (um edifício com alguma nobreza, mesmo no centro da aldeia, que se encontra a cair há mais de cinquenta anos, e ao qual já me referi aqui no Aliás) reunem-se ou pernoitam uns indivíduos que, supõe-se, se dedicam a actividades de magia negra...

E não informam a polícia?

Ninguém quer arriscar. Cada qual vive no seu buraco, as relações de vizinhança deixaram de existir. Já ninguém dá os bons dias a ninguém.