Sunday, August 16, 2009

PRODUTIVIDADE E CUSTOS DO SECTOR DA SAÚDE NOS EUA

É sobejamente sabido que a arte de fugir aos problemas adopta geralmente a arte da fuga em frente. Confrontados com as causas da crise global, os fiéis indefectíveis dos espíritos que governam as leis do mercado recusam-se a aceitar que houve excesso de liberalização dos mercados financeiros e endossam as culpas a qualquer intervenção do estado. Se o mercado falhou, dizem, foi porque o estado interveio. Segundo estes liberais radicais, a administração norte-americana não falhou ao deixar cair o Lehman Brothers, falhou por intervir, retirando ao mercado a possibilidade de purgar o sistema. Mesmo que tudo ficasse reduzido a cacos.

A política que Obama prometeu e quer cumprir relativamente ao sistema nacional de saúde causa ainda maior reacção por parte dos interesses que podem ser atingidos. Por causa deles, ou em nome deles, levantam-se os arautos da liberdade contra a intervenção do estado. Por paradoxal que pareça, contudo, deram-se conta que os custos de saúde nos EUA são superiores aos observados na generalidade dos países desenvolvidos.

Serviços Nacionais de Saúde: comparação internacional Mas, como seria de esperar, o espanto não os levou a considerar que, afinal, a intervenção do estado na saúde não é, necessariamente, causa de menor produtividade: Nos EUA, a intervenção estatal é menor do que observada nos países considerados na análise e os custos de saúde por habitante são superiores. Explicação liberal radical: A menor produtividade do sector da saúde nos EUA é imputável à intervenção do estado.

Para William W. Lewis, em " The Power of Productivity", editado em 2004, as razões, pelas quais o sector dos serviços de saúde é geralmente considerado mais problemático nos EUA, são outras. Os EUA gastam 14% do PIB com cuidados de saúde, mais 40% dos gastos observados com os mesmos serviços em outros países desenvolvidos. Uma vez que o PIB per capita nesses outros países é cerca de 25 a 30% inferior ao observado nos EUA, os EUA dedicam saúde cerca do dobro de recursos em termos per capita. Acresce que cerca de 10% da população norte-americana (30 milhões de pessoas) não possui qualquer seguro de saúde. Os serviços de urgência dos hospitais são obrigados a tratar estas pessoas em caso de doença ou acidente, e só nesses casos. Se a esta população não protegida fossem facultados serviços gratuitos de diagnóstico e acompanhamento na doença, em termos idênticos aos observados noutros países, a diferença de custos com cuidados de saúde seria ainda maior.

Por outro lado, se a produtividade do sector da saúde for ponderada pelos resultados, as conclusões continuam a apontar no sentido de menor produtividade deste sector nos EUA: a esperança de vida nos EUA é menor que a observada em outros países desenvolvidos, e especialmente a observada no Japão.

Um estudo conduzido com o objectivo de analisar a produtividade alcançada no tratamento nos EUA, Reino Unido e Japão relativamente de quatro doenças - diabetes, cálculos biliares, cancro do pulmão e cancro do fígado - concluiu que nos EUA são conseguidos melhores resultados em todos os casos, salvo na diabetes, onde os melhores indicadores são observados no Reino Unido.

Por quê, então, sendo a produtividade no sector de saúde superior nos EUA, os custos dos norte-americanos são os mais elevados?

(continua)

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