Wednesday, June 11, 2008

FOI-SE


O tempo do petróleo barato foi-se. Não há quem venha agora dizer o contrário. O mais curioso é que, ainda não há muito tempo, aqueles que previram que esta evolução seria inevitável defrontavam muitos que estavam certos e seguros de que havia ainda abundância suficiente de crude armazenado no subsolo para consumo irrestrito durante larguíssimos anos.
.
A 4 dólares por galão (3,78541178 litros) o preço equivalente em euros é de 0,679/litro, cerca de metade do valor médio na Europa. A diferença explica-se sobretudo pela carga fiscal. É esta diferença que explica também a preferência dos norte-americanos por carros mais baratos mas de maior consumo que na Europa. A aparente vantagem de combustíveis baratos tem efeitos preversos. Os norte-americanos estão agora a começar a perceber isso.
.
Acerca do efeito especulativo no crescimento dos preços as opiniões não são unânimes: Uns, como Paul Krugman e o Economist (que transcrevi no Aliás) consideram dispicienda essa causa; outros, como Robert Reich (que transcrevo a seguir) valorizam-na em significativa medida. Creio que a melhor avaliação se situa a meio caminho: a especulação é influente mas tem um impacto reduzido quando comparado com o resultante do crescimento da inusitada procura proveniente sobretudo da China e da Índia. É esta, aliás, a razão pela qual todos os analistas consideram que os preços ultrapassaram patamares abaixo dos quais já não voltam. Tivesse a especulação um efeito decisivo e os preços cairiam em medida comparável com aquela em que subiram.
.
Why is Gas at $4 a Gallon?
.
Conspiracy theories abound, but the soaring price of crude oil (today around $137 a barrel) is related to four more mundane forces:
(1) growing demand from developing nations, especially China and India. This is the main reason for the price rise over the last six years.
(2) the dropping dollar. As it drops, because of our trade imbalance and overall indebtedness to the rest of the world as well as our slowing economy, everything we buy from abroad -- including much of the oil we import -- costs more; everything we sell to foreigners -- including much of the oil we produce -- costs less to them. I attribute half of oil's price rise since January to this.
(3) Global investors (including, perhaps, your own pension fund) are anxious about the American economy, and looking to hedge their bets against future declines. Oil is one of the commodities that looks like a good bet. Hence, there's speculation in oil futures. This isn't a nefarious plot. It's the way the market works. A bit of a speculative bubble is forming, so beware. I attribute a big part of oil's price rise over the last few weeks to this.
(4) Instability in the Middle East. Israel's recent bellicose statements about Iran have generated fears about the continuing capacity and willingness of Middle Eastern oil producers to generate oil (about a third of world oil production). OPEC refuses to produce more. Some of oil's price rise over the last week is attributable to this. In other words, a perfect storm.
Given the US recession and slowing of European economies, I expect oil to fall to around $125 a barrel but then be pushed up by speculators and the falling dollar to around $135 over the next several weeks. Wall Street investment houses are talking about $150 by July but that's their way of stoking more speculation (in which they have a financial interest).
Bottom line: The days of cheap energy are over, folks. Gas may go down to $3.50 a gallon by this time next year, but you'd be wise to trade in your SUV for an economy car. And you'd be wise to avoid building that new addition to your home and put the money instead into better insulation.

6 comments:

A Chata said...

"crescimento da inusitada procura proveniente sobretudo da China e da Índia. "

Inusitada??????????????

Porquê inusitada?

Rui Fonseca said...

Viva!

Obrigado pela observação. Fui ver o dicionário que dá para inusitado os seguintes sentidos:

. não usual
. que não é corrente, que não se usa ou emprega com frequência
. que foge aos padrões costumeiros
. incomum
. insólito
. estranho
. inabitual
. que causa surpresa, estranhamento
. que é diferente do que se espera ou imagina

Penso que os aumentos dos consumos na China, Índia, etc.,se enquadram em algumas destas acepções. Não concorda?

Talvez devesse dizer, com mais propriedade, "surpreendente"?
Ou "vigorosa"?

Que lhe parece?

A Chata said...

Tendo em conta que já há alguns anos desde roupa que veste, aos brinquedos, aos componentes para computador, à alimentação para o gato e cão, à pasta de dentes, ao software, enfim, e tudo e tudo é fabricado na China, India, Bangladesh ou Vietnam não consigo entender qual o espanto que a China e a India tenham aumentado de maneira substancial a sua procura de petroleo e outras matérias primas.

Em 2007, e já até antes disso, apareciam noticias como esta:


China's dependence on imported oil increases
By Du Xiaoli (chinadaily.com.cn)
Updated: 2007-06-22 14:03

China's crude oil dependency will soon exceed 50 percent, said Dai Yande, deputy director-general of the Energy Research Institute of the National Development and Reform Commission. In his opinion, this won't have great impact on the international oil price.

...
In May, China imported 12.97 million tons of crude oil, which was less than the 13.86 million tons in March, and 14.82 million tons in April. The country exported 520,000 tons of oil last month, and the net imported amount of crude oil in May was 12.45 million tons. China's crude oil dependency reached 48 percent in April.
From January to May, China imported 67.43 million tons of crude oil, up 9.6 percent year-on-year. Meanwhile, it exported 1.6 million tons, down 36.6 percent. China's total oil consumption reached 320 million tons last year and around 150 million tons were from imports. Experts predict China's crude oil imports will increase to over 160 million tons this year.
...
http://www.chinadaily.com.cn/bizchina/2007-06/22/content_900405.htm

Rui Fonseca said...

Tem razão quando diz que este crescimento já era esperado. Mas é uma constatação relativamente recente. As produções indianas e chinesas não têm, em geral, uma componente intensiva de energia. O que, aliás, tem explicado a reduzida taxa de inflação que o mundo observou na última década.

O que desencadeou este aumento dos consumos energéticos foi o aumento de poder de compra desses povos no contexto internacional que os tornou maiores consumidores de energia. Mais viaturas, mais aquecimento, mais iluminação, etc. essas coisas a que se costuma chamar qualidade de vida.

A Chata said...

"As produções indianas e chinesas não têm, em geral, uma componente intensiva de energia. "

Como? Porquê?

Eis apenas alguns (poucos) exemplos do que se passou a produzir na China segundo os noticiários de vários jornais:

Perrine Créquy
26/11/2007 | Mise à jour : 11:17
...
... Sanofi-Aventis a noué un partenariat pour la construction d’une nouvelle usine de vaccins anti-grippaux en Chine
...

Chip maker in China venture
Mahesh Sharma | November 16, 2007

OPTICAL chip manufacturer Arasor has landed a $US300 million ($330 million) joint venture with Chinese electronics firm ZTE to build technology into mobile phones which turns them into mini-projectors.
ZTE is China's largest telecommunications and network equipment maker. The joint venture, as yet unnamed, will be based in China and manufacture microprojectors to be built into mobile devices such as phones, notebooks and PDAs.
...

Chrysler va produire en Chine
Jacques Lupianez.
Publié le 04 juillet 2007
Actualisé le 04 juillet 2007 : 12h38

Chery, l’un des principaux constructeurs automobiles du pays, va produire de petites voitures pour la firme américaine Chrysler, propriétaire des marques Jeep et Dodge, destinées à être commercialisées en Europe et aux Etats-Unis.
Il s’agit du premier contrat pour un constructeur américain pour des voitures fabriquées en Chine et exportées à l’international. Avec 350 000 véhicules produits en 2006, la société automobile fondée en 1997 est l’une des plus importantes en Chine. Avec plus de 7 millions de véhicules produits et vendus, la Chine est devenu le deuxième plus grand marché automobile mondial, selon le vice-Premier ministre chinois.
...


China set to produce 8.5 million autos in 2007
23 Sep 2007, 1658 hrs IST , PTI
BEIJING: China is expected to produce 8.5 million automobiles in 2007 and the booming auto industry's contribution to the GDP is also rising, a top economic planner has said.

e podia continuar ...

Sei que a China recorre muito ao carvão mas,

Petrochina devient le deuxième plus grand groupe du monde
Shanghaï JULIE DESNÉ.
Publié le 30 octobre 2007
Actualisé le 30 octobre 2007 : 07h12
Coté à Hongkong et bientôt à Shanghaï, le groupe pétrolier vaut plus cher que General Electric.
...

isto, penso eu, quer dizer alguma coisa.

Para que fique claro não sou a favor, nem contra qualquer país ou tribo do planeta, apenas tento, com todas as limitações que tenho, perceber para onde caminha a espécie humana.

Rui Fonseca said...

Obrigado, mais uma vez, pelo seu contributo.

Tem razão quando diz que algumas produções chinesas e indianas também serão agora mais intensivamente consumidoras de energia que as tradicionais. É verdade que chineses e indianos, entre outros, têm vindo a evoluir para a produção de outros bens que exigirão maiores consumos energéticos. Mas também é verdade, contudo, que no caso indiano, sobretudo, uma parte muito significativa do seu crescimento se está a dever ao crescimento nos serviços, baixos consumidores de energia.

Tudo conjugado o aumento inusitado de energia decorre de uma alteração no mix produtivo (admito que possa ser o caso) mas sobretudo (creio) no aumento do poder de compra que determina maiores consumos internos.