As crises provocadas pelo crescimento exponencial, num período curto, dos preços do petróleo no passado foram detonadas propositadamente com o objectivo de secar o mercado e afirmar o poder estratégico no mundo actual dos detentores das principais reservas de crude mundiais. Com menos impacto temporal e nos preços, também os acidentes provocados por fenómenos da natureza têm provocado desequilíbrios momentâneos no mercado e impulsionado os preços. A Arábia Saudita tem funcionado até agora como agente regulador do mercado restabelecendo o equilíbrio, ainda que contrariando por vezes as posições dos seus parceiros na OPEC.
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O que torna diferente a crise actual é o facto de na sua origem não estar nem uma intenção de a provocar nem fenómenos naturais destruidores das instalações de extracção, refinação ou transporte do crude. A crise decorre, simplesmente, do crescimento da aceleração da procura global, potenciada por alguma especulação em stocks que, no entanto, terá forçosamente efeitos limitados. A essa aceleração da procura não está a corresponder uma paralela aceleração da oferta, propositadamente ou em consequência da limitação das capacidades instaladas, ou uma coisa e outra. O anúncio da Arábia Saudita de aumentar a produção em mais 200 mil barris por dia já em Julho não vai alterar a situação porque, por um lado, a sua participação no mercado global, ainda que continuando relativamente maioritária é relativamente cada vez menos importante, e por outro os aumentos anunciados pesam muito pouco no contexto global ainda que se saiba que são sempre relativamente reduzidas as quantidades que invertem as tendências dos preços.
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É, no entanto, notável que encontrando-se o mercado numa situação apertada não há notícia até agora de ruptura de abastecimentos, o que pode significar reduções de stoks ou redução de consumos fora da "Chíndia". Aliás, não há outra maneira de enfrentar comercialmente os produtores, refinadores e distribuidores de crude que não passe pelo recurso a outras fontes alternativas e à alteração de hábitos e processos. Nenhum ganhador aceita voluntariamente "deixar dinheiro na mesa".
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A opção por energias alternativas e a alteração de processos e hábitos é também o único caminho para desviar o mundo de uma guerra global que possa ser desencadeada pela bomba petróleo (bomba P) e decidida por uma arma de destruição total.
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Sem um compromisso dos grandes produtores de crude no sentido de aumentarem as suas produções, o contributo regulador da Arábia Saudita é insuficiente. Mas ainda que esse compromisso seja atingido, o mundo passou a viver sob a inamovível ameaça de rupturas decorrentes de acções terroristas que podem cortar o abastecimento de quantidades relevantes de um momento para o outro. Porque, por exemplo, ao mesmo tempo que a Arábia Saudita anunciava o aumento de produção dos actuais 9,7 milhões de barris por dia para 12,5 milhões durante o próximo ano, um grupo sabotador desactivou instalações offshore na Nigéria reduzindo a produção para 1,5 milhões de barris diários de um máximo possível de 2,5 milhões.
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A instabilidade política, o terrorismo, a luta sem quartel entre facções pelos dinheiros do crude, é a maior ameaça ao equilíbrio de um mercado que é decisivo à sobrevivência da sociedade em que vivemos. Porque os actos que comprometerem esse equilíbrio fazem-no sem aviso e de um momento para o outro. É a bomba P, que só pode ser desactivada desactivando progressivamente o seu grau de importância na economia global.
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