Tuesday, June 10, 2008

NÃO (H)À EUROPA

Os irlandeses até podem por acabar por dar tangencialmente o sim ao Tratado de Lisboa mas a angústia do não paira por toda a União Europeia. Mesmo que o sim vença, o referendo que tantos paladinos da democracia directa incensam, está desde já ridiculamente ( e esperadamente) derrotado: Segundo uma sondagem do "Irish Times" publicada na sexta-feira, os partidários do não citam a sua dificuldade em entender o tratado como a primeira causa da sua oposição, seguido do desejo de manter o poder e a identidade da Irlanda e manter a neutralidade militar do país. Segundo o Público de hoje, que cita a mesma sondagem, do lado do sim o Tratado de Lisboa é apresentado como um documento bom para os interesses da Irlanda enquanto os defensores do não afirmam que o tratado irá impor a legalização do aborto ou permitir a detenção de crianças com mais de três anos com fins pedagógicos. O único partido com assento no parlamento que defende o não é o Sinn Fein. Do mesmo lado estão alguns grupos nacionalistas e activistas contra o aborto.
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Já se sabia que assim seria: os referendos são uma ocasião única para os extremistas capitalizarem todos os descontentamentos, mesmo os mais desencontrados, e criarem fantasmas de rejeição que nada têm a ver com o texto objecto de referendo. Se a estes factores alheios à matéria a referendar se juntar a óbvia dificuldade da maioria dos votantes em entender um texto reconhecidamente complexo, as probabilidades de vencer a demagogia que sustenta o referendo são sempre muito elevadas, e pode ser inglório o esforço sério da democracia representativa para denunciar o oportunismo que o acto do referendo oferece aos que propositadamente confundem os votantes que confessadamente não leram ou não entenderam o texto.
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No fim de todo este processo, dispendioso e moroso, se os irlandeses rejeitarem o tratado, deveriam demitir-se imediatamente aqueles que engendraram ou aceitaram, pela segunda vez, um sistema de ratificação obviamente vulnerável e susceptível de causar rombos profundos na credibilidade das instituições europeias. A começar pelo presidente da Comissão, José Manuel Barroso.

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