Sunday, June 01, 2008

PRETÉRITO IMPERFEITO

Maddie: PJ sem dados fundamentais

Ao impedir o Ministério Público de aceder aos telemóveis de Gerry McCann e dos amigos, o Tribunal da Relação de Évora faz com que a PJ não tenha na sua posse uma informação fundamental para perceber o que se passou na noite de 3 de Maio de 2007. Além dos registos das chamadas, o MP queria saber quem enviou 18 SMS a Gerry entre 2 e 4 de Maio.
Expresso 31/5/2008

A notícia vem quase sumida numa coluna estreita, só o nome conhecido da criança inglesa desaparecida chama a atenção a quem não tenha o hábito de ler o jornal de ponta a ponta. Poderá ser uma notícia incompleta, poderá não ser fidedigna, é frequente os jornalistas embarcarem em informações deturpadas, mas encaixa-se bem noutras que a imaginação popular tende a colocar neste puzzle complicado criado à volta de um caso que deu a volta ao mundo e que parece apontar no sentido do envolvimento dos próprios pais no desaparecimento da filha. Há dias tinha sido notícia a recusa dos amigos do casal McCann virem ao local do desaparecimento para uma derradeira reconstituição da noite fatídica. Agora é a recusa da Relação de Évora em facilitar o acesso a informações que a PJ considera importantes. Para quem não está minimamente familiarizado com os meandros por onde correm os rios opacos da justiça o veredicto popular corta a direito: Quem não deve não teme, se há obstrução à Justiça é porque há razões escondidas que não vão no sentido da exposição da verdade.
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É frequente lamentarem os guardiões, e os peseudo guardiões, do estado de direito a iniquidade dos julgamentos feitos na ausência ou em antecipação da justiça em sede devida. E que frequentemente esses julgamentos resvalam para a mais gritante iniquidade. Acontece que a justiça é uma necessidade primária reclamada pelas mentes minimante despertas. Se ela não se realiza ou se realiza de forma retardada ou obscura nos tribunais, é muito compreensível que cada um de nós ajuize conforme os contornos supostamente conhecidos. No caso McCann, esta notícia da obstrução no acesso a informações que a PJ e o MP consideram impostantes, encaixa-se na recusa das testemunhas inglesas e de várias outras que vieram a público que apontam em sentido idêntico. Se a justiça não quer ou não é capaz de desenrolar o novelo em que se enleou, a imaginação popular não se contem e dita as suas sentenças. Na convicção que também os tribunais não são infalíveis e muitas vezes são obscuras as suas decisões.
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É hoje incontroverso o facto de que a PJ não cumpriu no caso Maddie os manuais: ao perseguir o eventual raptor esqueceu completamente o eventual homicida (voluntário ou não) dando a este tempo mais que suficiente para eliminar as pistas condenatórias. A partir da anulação da pista primordial à PJ não resta alternativa senão explorar as contradições das testemunhas. Se elas se recusam a colaborar invocando que não acreditam no interesse da reconstituição para a descoberta do crime é suposto que não estão mais interessadas (se o estiveram alguma vez) na descoberta do criminoso. Porque é que a Relação de Évora recusa a informação reclamada já é mais difícil de perceber mas não deve ser mistério. Se o fez, contudo, foi porque deu provimento a um recurso não oriundo do MP. Quem pode ter interposto recurso senão a defesa dos arguidos?
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Porquê? É difícil aceitar que o fizeram para esclarecimento do crime. Tivera a PJ cumprido os manuais e o guião da história seria outro.

1 comment:

A Chata said...

Os estrangeiros são tão melhor que nós, os doutores são tão melhor que a gentalha, os ricos são tão melhor que os pobres.
Há alguns anos tive um acidente de carro com o meu marido, batemos numa mota.
Veio a GNR. A passageira da mota estava no meio da estrada estendida. O policia olha para o nosso carro. viu um carro barato e dirigiu-se ao meu marido com toda a autoridade do mundo e pediu-lhe os documentos. Ao verificar que ele era médico, a atitude mudou completamente.
A senhora continuava estendida no chão e a conversa era: "O sr. Dr., quando puder, irá prestar declarações. O sr. Dr. isto, o sr.Dr. aquilo..."
Felizmente acabou tudo em bem para os acidentados mas, esta foi a imagem que ainda hoje tenho da nossa policia e sistema judicial.