Senhor Presidente da Câmara Municipal de Sintra,
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Felicito-o, antes de mais, pela realização do 43º. Festival de Sintra.
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Ontem fomos, eu e minha mulher, ouvir Lugansky, e a indicação no programa de que ele é hoje em dia um dos maiores pianistas do mundo parece-nos merecida.
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Tenho, contudo, a propósito desta nossa ida ontem ao Palácio Nacional de Sintra, um protesto e uma sugestão para lhe apresentar.
.Protesto pelo facto de, tendo sido alertados para o facto de não existirem lugares marcados, nos termos apresentado à entrada com mais de meia hora de antecedência, que suportámos de pé, ao chegar à sala deparámos com 26 cadeiras marcadas com a indicação de "RESERVADO" impressa em tiras de papel colocadas sobre os assentos. Estranhei o facto e indaguei das razões. Disseram-me que aqueles lugares se destinavam a convidados da câmara.
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Senti-me na corte do senhor D. João V, sentado nos lugares da criadagem, à espera que suas excelências chegassem para se sentarem nos lugares da frente e o pianista desse início ao concerto. Com a particularidade da criadagem estar ali pagando bilhete e suas excelência terem entrado, sendo convidados, à borla.
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Percebo perfeitamente que a câmara convide pessoas a quem nós, os residentes e contribuintes em Sintra, devamos especial reconhecimento para um espectáculo numa casa nossa. Não creio, no entanto, que, de uma vez só, 26 personalidades tenham rumado a Sintra em noite que o senhor presidente da câmara não estava lá para os receber.
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A minha suposição vai, por aqueles indícios, que os 26 convidados são funcionários camarários, mais ou menos graduados, a quem, no entender deles, a criadagem paga para suas excelências reservarem dez por cento da lotação da sala, nos melhores lugares, evidentemente, sem pagar nem ter de estar à espera da hora de entrada.
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Não, senhor presidente, não creio que o senhor tenha dado ordens neste sentido. Por isso o alerto e lhe peço que mande corrigir a situação devolvendo aos seus munícipes a dignidade que eles merecem: apenas e só que sejam tratados em pé de igualdade com os funcionário da câmara.
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Aproveito ainda para lhe sugerir que, se pretende a câmara continuar a utilizar aquela sala, devem os organizadores tomar alguns cuidados para que seja respeitada a dignidade profissional e pessoal do artista e o respeito que merecem os espectadores, incluindo, obviamente, os convidados da câmara.
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Isto porque, senhor presidente, pouco tempo depois de Lugansky ter iniciado a sua actuação, terem começado a ouvir-se vozes berradas do exterior do edifício; às 21,55 horas, o sino da igreja deu duas badaladas; às 21,56, ladrou um cão; às 22 horas o sino deu 10 badaladas. Logo a seguir passou a acelerar uma mota; após o intervalo observou-se algum tempo de relativo sossego no exterior, mas as vozes, os carros e o sino voltaram na parte final a fazer a sua aparição.
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Sei que quanto ao sino, nada a fazer. Quanto às vozes, cães e motores, creio que quase nada também. De modo que o melhor é não utilizar aquela sala para o efeito. Servia ainda no tempo de D. Carlos quando as pessoas tinham mais respeito pelo palácio, não havia motores e o som do sino não apoquentava as sensibilidades cristãs de quem ouvia o pianista.
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Desta vez senti-me envergonhado por termos recebido tão mal tão ilustre convidado: Lugansky. Apresente-lhe, se faz favor, senhor presidente desculpas também em nosso nome.
1 comment:
Quer dizer, o meu amigo ainda não tinha dado pela sua dimensão?
As dimensões, ditam os lugares.
Quem é o senhor, comparado com o chefe da tesouraria da câmara? Ou com o vereador do lixo?
Para não falar de sua excelência o sr. consultor financeiro da câmara e o assessor jurídico.
Meu amigo, este mundo, esta Europa dos políticos, não quer gente da sua e da minha estaleca a complicar-lhes a vida.
Só faltou dizer ao artista que esperasse um bocadinho que o sr. Vereador dos cemitérios estava a chegar...
E se calhar, quem sabe?
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