Nos tempos em que a Espanha ainda lambia as feridas da guerra civil dizia-se que os combóios espanhóis chegavam sempre adiantados porque eram os do dia anterior.
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Segundo se pode ler no diário espanhol "Cinco Dias" da passada sexta-feira os investimentos em caminhos de ferro e autoestradas voltarão a ser os motores de investimento nos próximos quatro anos em Espanha. O governo espanhol compromete-se a colocar em serviço até 2012 um total de 1300 quilómetros para combóios de alta velocidade e 1500 quilómetros de autoestradas. O AVE chegará a Burgos ainda este ano e em 2010 a Valência e à fronteira francesa. Em 2012 ficarão ligadas pela AVE Sevilha e Cádiz. A Espanha, que já conta com a maior rede de alta velocidade e uma das mais extensas redes de autoestradas da Europa, vai continuar a sustentar o seu crescimento em investimentos em infraestruturas de transportes.
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Portugal olha para o vizinho, e ainda que lhe faltem os recursos, tenta-se a imitá-lo à falta de imaginação para conceber um modelo que melhor se adeque às suas necessidades e às suas forças. A alta velocidade parece ser para Portugal, a contas com a ameaça de uma recaída no desequilílibrio do défice das contas públicas, uma extravagância quando os sinais apontam, mais do que nunca, para opções diferentes. O crescimento dos preços do petróleo para patamares de onde não recuarão para os dos tempos da energia barata recomendam uma alteração radical nos investimentos de comunicações favorecendo os de menores consumo. O caminho de ferro volta a estar na moda e é essa a aposta que deveria ser feita: melhorar toda a rede ferroviária ainda existente de forma a tornar o combóio um meio competitivo para a deslocação de pessoas e mercadorias. Competitividade essa que deveria incluir a disponibilidade de bons acessos às estações e de parques automóveis suficientes e gratuitos.
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Porque se Portugal não precisa ou não tem unhas para a alta velocidade e os investimentos em autoestradas deveriam ser dados agora por concluídos (muito provavelmente foram já longe de mais), o combóio deveria passar a ser prioritário nas políticas do governo para o sector.
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Lamentavelmente, por aquilo que se conhece, não vai ser assim. Mas assim não escaparemos à inexorável dependência cada vez mais asfixiante do automóvel e dos camions na estrada. Os lóbis à volta do cimento não o consentem. Teremos alta velocidade entre Porto-Lisboa-Madrid e combóios do tempo em que o combóio espanhol era outro, realizando uma imitação a dois tempos.
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